No banco da praça
Certa vez, enquanto esperava o ônibus, numa praça, pude ouvir esta interessantíssima conversa entre dois senhores, provavelmente, já aposentados. Um deles já estava bem careca, usava óculos escuros, uma camiseta branca, daquelas sem mangas, calças azuis e sandálias de couro que quase desapareciam sob as barras da calça. O outro ainda tinha muito cabelo, mas o mantinha impecavelmente aparado, usava bigode e uns óculos muito grandes; vestia uma camisa branca, já um tanto amarelada, usava uma bermuda marrom e, também, sandálias de couro, estas, porém, bem visíveis, pois não havia calça que as escondessem. E o homem de bigode começa a conversa:
- Tem feito calor, hein?
- É verdade... Dá vontade de não fazer nada – respondeu o outro com um jeito cansado. – Mas acho que logo chove...
- Chove... Mas larga mão de ser preguiçoso e faz alguma coisa!
- Ah! Mas eu já fiz muito! Servi o meu país!
- Ah, sim! – percebi um tom excessivamente irônico neste “Ah, sim!”, mas ele continuou – Olha, a gente sempre teve nossas divergências políticas. Lembra de como a gente se conheceu?
- Hahahaha! Mas depois que eu descobri quem você era... Eu nunca achei que você fosse bandido, mas me mandaram te prender! Só fiz o meu serviço.
- Passei um sufoco, viu? E agora, você tá satisfeito com seu país?
- Na verdade, não muito... Tem um monte de problema por aí...
- Problema!? Olha só o ponto de ônibus. Quanta gente! E essa merda, pelo jeito, deve tá atrasada. Daí, o ônibus vai cheio, lotado. E todo mundo de pé. Outro dia Fonseca, - assim se chamava o careca – tive que ir até o hospital, buscar uns exames. Tinha tanto velho no ônibus que se via um senhor de 65 cedendo lugar para o outro de 67. Sem falar do motorista que corria que nem louco. Foi uma dificuldade “pra gente” se equilibrar que só vendo...
- É Otacílio, - esse era o nome do de bigode – as coisas vão mal. No meu tempo...
- Que no meu tempo o quê! Só quero dizer, e você sabe muito bem, que não acredito nessa história de “meu país”... o que você fez foi proteger que tinha dinheiro... E professor que nem eu... Isso não tem nada a ver com pátria!
- Pô, amigo, depois de tanto tempo... Já te falei que eu fiz um monte de cagada na vida...
Então se fez um segundo de silêncio e constrangimento entre os dois. Logo o Fonseca voltou a falar:
- E o Palmeiras?
- Você viu, rapaz, perdeu de novo... desse jeito não dá...
- Acho que é culpa do técnico. Ele é muito burro!
- Você acha? Por o L... pra jogar! O cara é o maior perna de pau! E ainda joga de salto alto! Imagina!... Quem o Palmeiras pega na próxima rodada?
- Acho que é o São Paulo...
- Ih! Tá f...
Então, finalmente o ônibus chegou e tive que ir embora. Foi interessante descobrir, por acaso, como eles se conheceram. Apesar disso, não existe raiva ou rancor. Restou apenas a companhia um do outro, a amizade e suas intermináveis conversas tão inconclusivas quanto a vida...
Certa vez, enquanto esperava o ônibus, numa praça, pude ouvir esta interessantíssima conversa entre dois senhores, provavelmente, já aposentados. Um deles já estava bem careca, usava óculos escuros, uma camiseta branca, daquelas sem mangas, calças azuis e sandálias de couro que quase desapareciam sob as barras da calça. O outro ainda tinha muito cabelo, mas o mantinha impecavelmente aparado, usava bigode e uns óculos muito grandes; vestia uma camisa branca, já um tanto amarelada, usava uma bermuda marrom e, também, sandálias de couro, estas, porém, bem visíveis, pois não havia calça que as escondessem. E o homem de bigode começa a conversa:
- Tem feito calor, hein?
- É verdade... Dá vontade de não fazer nada – respondeu o outro com um jeito cansado. – Mas acho que logo chove...
- Chove... Mas larga mão de ser preguiçoso e faz alguma coisa!
- Ah! Mas eu já fiz muito! Servi o meu país!
- Ah, sim! – percebi um tom excessivamente irônico neste “Ah, sim!”, mas ele continuou – Olha, a gente sempre teve nossas divergências políticas. Lembra de como a gente se conheceu?
- Hahahaha! Mas depois que eu descobri quem você era... Eu nunca achei que você fosse bandido, mas me mandaram te prender! Só fiz o meu serviço.
- Passei um sufoco, viu? E agora, você tá satisfeito com seu país?
- Na verdade, não muito... Tem um monte de problema por aí...
- Problema!? Olha só o ponto de ônibus. Quanta gente! E essa merda, pelo jeito, deve tá atrasada. Daí, o ônibus vai cheio, lotado. E todo mundo de pé. Outro dia Fonseca, - assim se chamava o careca – tive que ir até o hospital, buscar uns exames. Tinha tanto velho no ônibus que se via um senhor de 65 cedendo lugar para o outro de 67. Sem falar do motorista que corria que nem louco. Foi uma dificuldade “pra gente” se equilibrar que só vendo...
- É Otacílio, - esse era o nome do de bigode – as coisas vão mal. No meu tempo...
- Que no meu tempo o quê! Só quero dizer, e você sabe muito bem, que não acredito nessa história de “meu país”... o que você fez foi proteger que tinha dinheiro... E professor que nem eu... Isso não tem nada a ver com pátria!
- Pô, amigo, depois de tanto tempo... Já te falei que eu fiz um monte de cagada na vida...
Então se fez um segundo de silêncio e constrangimento entre os dois. Logo o Fonseca voltou a falar:
- E o Palmeiras?
- Você viu, rapaz, perdeu de novo... desse jeito não dá...
- Acho que é culpa do técnico. Ele é muito burro!
- Você acha? Por o L... pra jogar! O cara é o maior perna de pau! E ainda joga de salto alto! Imagina!... Quem o Palmeiras pega na próxima rodada?
- Acho que é o São Paulo...
- Ih! Tá f...
Então, finalmente o ônibus chegou e tive que ir embora. Foi interessante descobrir, por acaso, como eles se conheceram. Apesar disso, não existe raiva ou rancor. Restou apenas a companhia um do outro, a amizade e suas intermináveis conversas tão inconclusivas quanto a vida...
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