sábado, agosto 29, 2009

Teatro de Bonecos em Araraquara - Post relâmpago

Olá, pessoal

O tempo continua curto, mas vamos ao que interessa.

Hoje começa a "Mostra Sesi de Teatro de Bonecos", em Araraquara, com o espetáculo "E Se... do Grupo Tato Criação Cênica. A peça terá duas sessões, no teatro do Sesi: 29 de agosto às 19h e 30 de agosto às 17h.

Amanhã também tem uma montagem de Frankenstein da Cia. Polichinelo no Sesc às 11h. Este estou bem curioso para assistir.

Até breve!

terça-feira, agosto 25, 2009

Semana corrida...

Infelizmente, tive uma semana bastante corrida e não deu para escrever nada... Espero conseguir alguma coisa até sexta-feira!

Quem ainda não respondeu, por favor, responda minha enquete! Quero conhecer melhor meus leitores e muito obrigado aos amigos que recomendam meu blog!!!!

domingo, agosto 16, 2009

Der neuere (glücklichere) Werther - O mais novo (mais feliz) Werther

Essa é mais uma tradução de uma anedota de Heinrich von Kleist. Para quem se interessar, eu pego esses textos no Projekt Gutenberg - DE. Para quem não conhece, essa anedota é uma sátira do famoso Os sofrimentos do jovem Werther de Goethe, obra que ficou famosa por, supostamente, ter provocado uma série de suicídios em toda a Europa. A obra de Goethe foi traduzida para várias línguas e dizem que o jovem Werther chegou até mesmo a estampar porcelanas chinesas. Para quem ainda não conhece o romance goethiano, de sua fase Sturm und Drang, tá aí uma boa sugestão de leitura. Por ora, fiquem com "O mais novo (mais feliz) Werther".

(abaixo uma ilustração do velho Werther, com seu colete azul e suas calças amarelas)



Der neuere (glücklichere) Werther


Zu L..e in Frankreich war ein junger Kaufmannsdiener, Charles C..., der die Frau seines Prinzipals, eines reichen aber bejahrten Kaufmanns, namens D..., heimlich liebte. Tugendhaft und rechtschaffen, wie er die Frau kannte, machte er nicht den mindesten Versuch, ihre Gegenliebe zu erhalten: um so weniger, da er durch manche Bande der Dankbarkeit und Ehrfurcht an seinen Prinzipal geknüpft war. Die Frau, welche mit seinem Zustande, der seiner Gesundheit nachteilig zu werden drohte, Mitleiden hatte, forderte ihren Mann, unter mancherlei Vorwand auf, ihn aus dem Hause zu entfernen; der Mann schob eine Reise, zu welcher er ihn bestimmt hatte, von Tage zu Tage auf, und erklärte endlich ganz und gar, daß er ihn in seinem Kontor nicht entbehren könne. Einst machte Herr D..., mit seiner Frau, eine Reise zu einem Freunde, aufs Land; er ließ den jungen C..., um die Geschäfte der Handlung zu führen, im Hause zurück. Abends, da schon alles schläft, macht sich der junge Mann, von welchen Empfindungen getrieben, weiß ich nicht, auf, um noch einen Spaziergang durch den Garten zu machen. Er kömmt bei dem Schlafzimmer der teuern Frau vorbei, er steht still, er legt die Hand an die Klinke, er öffnet das Zimmer: das Herz schwillt ihm bei dem Anblick des Bettes, in welchem sie zu ruhen pflegt, empor, und kurz, er begeht, nach manchen Kämpfen mit sich selbst, die Torheit, weil es doch niemand sieht, und zieht sich aus und legt sich hinein. Nachts, da er schon mehrere Stunden, sanft und ruhig geschlafen, kommt, aus irgend einem besonderen Grunde, der, hier anzugeben, gleichgültig ist, das Ehepaar unerwartet nach Hause zurück; und da der alte Herr mit seiner Frau ins Schlafzimmer tritt, finden sie den jungen C..., der sich, von dem Geräusch, das sie verursachen, aufgeschreckt, halb im Bette, erhebt. Scham und Verwirrung, bei diesem Anblick, ergreifen ihn; und während das Ehepaar betroffen umkehrt, und wieder in das Nebenzimmer, aus dem sie gekommen waren, verschwindet, steht er auf, und zieht sich an; er schleicht, seines Lebens müde, in sein Zimmer, schreibt einen kurzen Brief, in welchem er den Vorfall erklärt, an die Frau, und schießt sich mit einem Pistol, das an der Wand hängt, in die Brust. Hier scheint die Geschichte seines Lebens aus; und gleichwohl (sonderbar genug) fängt sie hier erst allererst an. Denn statt ihn, den Jüngling, auf den er gemünzt war, zu töten, zog der Schuß dem alten Herrn, – der in dem Nebenzimmer befindlich war, den Schlagfluß zu: Herr D... verschied wenige Stunden darauf, ohne daß die Kunst aller Ärzte, die man herbeigerufen, imstande gewesen wäre, ihn zu retten. Fünf Tage nachher, da Herr D... schon längst begraben war, erwachte der junge C..., dem der Schuß, aber nicht lebensgefährlich, durch die Lunge gegangen war: und wer beschreibt wohl – wie soll ich sagen, seinen Schmerz oder seine Freude? als er erfuhr, was vorgefallen war, und sich in den Armen der lieben Frau befand, um derentwillen er sich den Tod hatte geben wollen! Nach Verlauf eines Jahres heiratete ihn die Frau; und beide lebten noch im Jahr 1801, wo ihre Familie bereits, wie ein Bekannter erzählt, aus 13 Kindern bestand.



O mais novo (mais feliz) Werther

Em L...e, na França, havia um jovem funcionário de um comerciante, Charles C..., que secretamente amava a mulher de seu patrão, um homem de negócios rico, mas idoso, chamado D... . Virtuosa e honesta, como ele a conhecia, não fazia a menor tentativa de ganhar sua simpatia; e ainda menos, pois estava amarrado ao seu patrão por laços de gratidão e respeito. A mulher, que por compaixão ao seu estado de saúde que ameaçava piorar, pediu ao marido, sob vários pretextos, para que se afastasse de casa; o marido adiava a viagem, para a qual se designara, dia após dia; e finalmente esclarecia bem, que não podia se dispensar de seus negócios. Depois de um bom tempo, o Senhor D... e sua esposa viajaram para a casa de um amigo, nos campos, deixando para trás, o jovem C..., para conduzir os negócios de sua loja. À noite, quando todos já dormem, o jovem – movido por quais sentimentos eu não sei –, sai para dar ainda mais um passeio no jardim. Ele passa pelo quarto de dormir da cara esposa e para, quieto; coloca a mão na maçaneta; abre o quarto: o coração quase lhe sai pela boca à vista da cama, na qual ela costumava descansar. Depois de alguma luta consigo mesmo, ele comete a tolice; porque certamente ninguém o observava, despe-se e deita na cama. De madrugada, depois que ele já havia dormido por várias horas em paz e tranquilidade, por qualquer motivo que aqui não nos importa, o casal inesperadamente volta à casa; e, quando o velho senhor com sua esposa entram no quarto, eles encontram o jovem C..., já meio erguido da cama, alarmado com o barulho que seus senhores provocaram. Vergonha e perplexidade se apoderam dele. E quando o casal desconcertado volta e desaparece novamente no cômodo pelo qual eles haviam chegado, ele se levanta e se veste. Vai furtivamente até o seu quarto, cansado de sua vida, e escreve uma breve carta para a mulher, na qual esclarece o incidente; e, com a pistola que ficava pendurada na parede, atira contra o próprio peito. Aqui termina a história de sua vida; mas, todavia (estranho o suficiente) só aqui ela começa de fato. Pois, em vez dele, o jovem, que considerava valioso demais para matar, o tiro veio a atingir o velho Senhor, que se encontrava no quarto ao lado, provocando-lhe um derrame: o senhor D... morreu em poucas horas, sem que a arte de todos os médicos, que foram chamados, fosse capaz de salvá-lo. Cinco dias depois, quando o senhor D... já estava bem enterrado, o jovem acordou – o tiro havia lhe atravessado o pulmão, porém sem risco de vida. E quem descreve perfeitamente – como devo dizer, sua dor ou sua alegria? – quando ele descobriu o que tinha acontecido e que se encontrava nos braços de sua amada, pelos quais ele quis se entregar à morte! No decorrer de uns anos, ele se casou com a mulher; e ambos ainda viviam, no ano de 1801, quando sua família já contava com treze filhos, como um conhecido relata.

sábado, agosto 08, 2009

In the name of Bach – música viva

A ideia sobre esse post surgiu de uma rápida leitura dos primeiros capítulos de O Discurso dos Sons: Caminhos para uma nova compreensão musical de Nikolaus Harnoncourt. Para quem não o conhece, Nikolaus Harnoncourt foi um dos grandes nomes envolvidos na interpretação autêntica de música antiga (antes de Beethoven), isto é, a execução das obras com instrumentos antigos, procurando se aproximar, o máximo possível, de como a música teria sido ouvida na época em que foi composta.

Mas Harnoncourt não pretende construir nenhuma “doutrina” da interpretação histórica e explica que essa ideia de música “antiga” foi algo que surgiu apenas após a Revolução Francesa. Antes desse período, conforme o autor explica, a música era vista como uma arte mais viva, intimamente relacionada ao cotidiano das pessoas. Não existia ainda a ideia de “interpretar grandes mestres do passado”. Essa música antiga era utilizada mais para fins de estudo e, se por acaso fosse levada a concerto, a composição era atualizada, assumindo, assim, o caráter de sua época.

Esses primeiros capítulos do livro de Harnoncourt são escritos em um certo tom de lamento pelo empobrecimento que a música (e as artes em geral) sofreram, em nome do conforto ou de novos brinquedinhos tecnológicos. Conforme o autor:


“Os valores que os homens dos séculos precedentes respeitavam não nos parecem, hoje, importantes. Eles consagravam todas suas forças, todos seus esforços e todo seu amor a construir templos e catedrais, ao invés de dedicarem-se à máquina e ao conforto. O homem de nossa época dá mais valor a um automóvel ou a um avião que a um violino, mais importância ao planejamento de um aparelho eletrônico que a uma sinfonia. Pagamos um preço bem alto por aquilo que nos parece o cômodo, o indispensável; sem nos darmos conta, rejeitamos a intensidade da vida em troca da sedução enganadora do conforto – e aquilo que verdadeiramente perdemos, jamais recuperaremos.”


Assim, a música deixou de ter um sentido profundo. Deixou de ser “a linguagem viva do indizível”, como diz o autor, para ser apenas ornamento para a vida comum. Ela perdeu a sua capacidade de transformação no ser humano – tanto o ouvinte como o músico. Ironicamente, isso se agravou ainda mais quando a música se tornou mais acessível, através de gravações, rádio etc. Hoje ouvimos música apenas para preencher o vazio provocado pelo silêncio; aquele vazio que nos traz uma solidão e que, quase inevitavelmente, pode levar a um confronto com o próprio eu.

A proposta de Harnoncourt, com seu retorno à música antiga e ao aprofundamento da interpretação histórica é uma tentativa de re-encontrar a música de nosso tempo, procurando uma forma de compreensão musical mais próxima da dos grandes mestres.

Em meio a isso tudo, surge-me uma figura muito interessante chamada Alex Masi. Seu CD, intitulado In the name of Bach, chegou às minhas mãos como um presente de aniversário (Obrigado, Leandro Ferro!) e nele estavam gravadas composições para teclado e violino do maior músico de todos tempos, arranjadas e interpretadas na guitarra elétrica (com direito a distorção e tudo, em algumas faixas). O resultado poderia parecer uma blasfêmia para alguns ouvintes mais conservadores, mas Masi, não deixou de, ao seu modo, reviver a música de J. S. Bach.

O mais interessante são as tentativas de catalogação empreendidas pelos sites de venda. É Bach, mas tocado na guitarra... até com distorção! Então vai para a prateleira de heavy metal.

Falando do CD, propriamente dito, considero o resultado bastante interessante e que certamente merece ser ouvido. Com o uso de diversos efeitos, sua guitarra assume sons que ora lembram o cravo ora o orgão, mas sem perder aquela característica maravilhosa do som de cordas dedilhadas. Na Sicilliano em Dó menor da Sonata para violino e cravo BWV 101, o guitarrista consegue um ótimo efeito, que resgata o som dos instrumentos originais para os quais a música foi composta acrescentando-lhe um toque de modernidade, no mínimo inesperado.

Confesso que também sou um grande admirador da reconstrução histórica das composições dos grandes mestres do passado. Porém, de forma alguma devemos deixar de prestigiar esse fabuloso guitarrista. Seu trabalho tem muito mais prós do que contras e sua técnica é impecável. Em minha modesta opinião, suas interpretações conseguiram, de fato, reviver uma grande música, criando uma ponte entre o século XVIII e o nosso.

Para quem não conhece Bach, está aí um ótimo jeito de começar!

domingo, agosto 02, 2009

O Descobrimento do Brasil e a redescoberta da Legião Urbana


Muitas pessoas torcem o nariz ao ouvir falar da Legião Urbana; outras ainda demonstram entusiasmo, quando algum trecho de uma canção qualquer da banda lhe chega aos ouvidos. Mas ninguém fica indiferente ao grupo. Daqueles que torcem o nariz é comum escutar comentários do tipo: “ah, eles só tocavam três acordes”, “a Legião não canta nada com nada” ou “quando se ouve a Legião cantar alguma coisa realmente boa, pode crer que o Renato Russo roubou de alguém”, além do bastante clássico “Eles copiavam os Smiths!”.

Acho que a Legião foi a primeira banda da qual fui fã – sem contar os lendários Mamonas Assassinas, quando eu ainda era bem pequeno. Lembro-me de que meu irmão apareceu aqui em casa com uma fita cassete, que tinha uma gravação de Faroeste Caboclo, ao vivo. Nunca tinha ouvido nada parecido. Aquela música enorme, de pouco mais de nove minutos, cheia de variações, com uma letra de quatro páginas e uma história fascinante. Não demorou muito para eu aprender a letra todinha, como o fizeram muitos de minha geração.

Algum tempo depois meu irmão comprou o CD Que país é este. De início eu me contentava em ouvir apenas a Faroeste, ainda fascinado em meus 11 anos de idade. Aos poucos, fui arriscando ouvir a música seguinte (Angra dos Reis), depois a música anterior (Eu Sei). Aí parei de novo encantado. “Por que é mais forte quem sabe mentir?” Certo dia, ouvi o CD todo. Não me decepcionei. Assim eu começava a aprender a gostar de música. No ano seguinte comecei a ter aulas de violão.

Alguns até podem dizer: “Poxa, começou mal, hein!” Não concordo. E também não acho que a musicalidade da Legião Urbana seja tão pobre assim. Mesmo que o Renato Russo até brincasse, dizendo “Como compor 43 sucessos com apenas 3 acordes”, o fato é que em poucas bandas se pode notar uma evolução técnica como aconteceu com a Legião.

Em uma rápida retrospectiva: 1) Legião Urbana – o primeiro disco da banda, gravado em 1985, saiu com o fim da ditadura, o som ainda bastante crú, mas já com alguns sucessos como Será, Ainda é Cedo e Geração Coca-cola, além de outras músicas bem legais mas pouco conhecidas como A Dança e O Reggae; 2) Legião Urbana: Dois – clássicos como Tempo Perdido, Eduardo e Mônica e Índios, além da primeira música instrumental da banda, Central do Brasil. 3) Que País é Este: disco que reunia uma série de composições antigas, dentre elas a Faroeste Caboclo e Química, que, segundo a lenda foi uma das músicas responsáveis pelo rompimento do Aborto Elétrico; 4) As Quatro Estações – considerado por muitos como o melhor disco da banda, é o disco que contém Há Tempos, Pais e Filhos, Quando o sol bater na janela do seu quarto e Monte Castelo; 5) Legião Urbana: V – foi o disco menos vendido da banda, mas ainda assim, teve seus clássicos como Metal contra as nuvens e Teatro dos Vampiros, além da segunda música instrumental da banda, A ordem dos templários.

Chegamos, enfim, ao Descobrimento do Brasil. Um disco que vale a pena ser ouvido e só peca pelo fato de ser muito curto, tem cerca de 44 minutos. Aqui sim, realmente se pode notar como a Legião evoluiu com o passar dos anos, pois, se a harmonia ainda é simples, os arranjos se tornaram mais sofisticados. Cada música parece ter a sua sonoridade própria, sendo inovadora, ao mesmo tempo que carrega os traços mais característicos da banda. Nesse disco se tornam mais perceptíveis seus traços medievalistas, já bastante marcados na temática e nos arranjos do V, e é bastante interessante o uso da sítar da música Love in the afternoon.

Nesse disco, as letras falam, em sua maioria sobre o tema da despedida – mesmo que o álbum se chame “o descobrimento”. Pode parecer estranho, mas essa temática é tratada de várias formas: pode ser a despedida de um amigo que se foi; a despedida de um modo de vida; a despedida da infância; a despedida de coisas ruins... talvez seja a despedida como um novo começo, ou como um impulso que leva a tal. A faixa título insinua esse novo começo: uma relação que transita entre o amor e a amizade de um “rapaz direito” escolhido “pela menina mais bonita”.

Mas não pretendo dissecar algo que é tão especial para mim. Depois de um longo tempo mergulhado nos clássicos, barrocos e progressivos, ouvi novamente a Legião, e especialmente esse CD, e não fiquei decepcionado. Foi como abrir uma caixa escondida no fundo do armário e descobrir que ela está cheia de moedas de ouro.

Em 2009, faz 13 anos que o Renato Russo morreu e a Legião Urbana acabou. Na minha opinião, ainda não surgiu nenhuma outra banda que pudesse se equiparar em criatividade e qualidade. Em nenhum disco a banda repetiu “fórmulas consagradas” e, se se enquadrava no amplo campo do nosso variado rock nacional, manteve sempre algo de peculiar, algo que era só da Legião.

Sua qualidade não consistia no virtuosismo instrumental, nas milhares de notas tocadas em um segundo ou em harmonias complexas, elementos típicos do metal ou da MPB. A qualidade estava no equilíbrio entre uma boa letra e uma música adequada, que não competia para saltar ao primeiro plano, mas que também não era apenas um acessório para uma letra bem construída. Num equilíbrio especial entre esses dois elementos, algo bastante raro de se encontrar.

Creio que este tópico tenha ficado bastante pessoal.

Estou carente de heróis.

"Força Sempre"