sexta-feira, janeiro 13, 2012

O que há por dentro? - Charles M. Schulz

Já faz um bom tempo que não escrevo, mas em meu último post perguntaram-me se eu estava apaixonado por alguma garota ruiva... Na verdade não, era uma homenagem a Charles M. Schulz, o criador dos quadrinhos do Charlie Brown e toda sua turma. A referência, é claro, é a garotinha ruiva pela qual Charlie Brown é apaixonado.

Pode-se dizer que "os desenhos do Snoopy" como costumava falar na infância eram uma ótima companhia, e continuariam sendo, já que, sob um olhar mais atento ele despertará a curiosidade não apenas das crianças, mas também de pessoas sensíveis de todas as idades.

 - Não consigo nem respirar se meus sapatos
não estão amarrados direito!
As personagens e as relações são construídas de maneira engenhosa, de modo que transitam entre um universo "adulto" e outro completamente infantil. Há, por exemplo, a esperta e interesseira Lucy, bem como seu irmão que filosofa sobre temas complexos agarrado ao seu cobertor. Schroeder persegue firmemente o seu ideal musical, às vezes até tornando-se alheio ao mundo que o cerca. Por fim, o próprio Charlie Brown, que não busca ser o garoto mais popular ou mesmo algum tipo de herói, busca apenas aceitação e seu lugar em meio a outras crianças. Então, desenvolve-se um cenário onde problemas infantis, como ser bom no beisebol ou em empinar pipas, tornam-se cada vez mais pesados sob o signo do fracasso.

As personagens, em especial o próprio Charlie Brown, ganham uma perspectiva interna: há um mundo rico e complexo dentro de cada criança, algo que Schulz não se esqueceu. Suas personagens não vivem meramente uma infância feliz e alienada, elas são conscientes de que algo se passa lá fora e vez ou outra trazem isso à tona, inclusive em suas questões morais e éticas. Mas é seu mundo interno que é mais manifesto e não é um mundo exclusivo de alegrias e brincadeiras. O fracasso de Charlie Brown também lhe é deprimente, o que o leva às onerosas consultas com a psicóloga da turma, Lucy, que o critica e lhe expõe ainda mais seus defeitos, sua inabilidade nos jogos, seu jeito desengonçado, sua tendência a engordar...

Entretanto, em meio aos desconfortos e fracassos, Schulz trás a tona um pensamento positivo: o mundo não acaba quando se perde alguma coisa! Ele continua lá, movimentando-se, o sol brilha, as outras pessoas continuam com suas vidas normalmente... Por outro lado, dentre suas personagens todas são mais ou menos desajustadas e/ou com algum sofrimento latente, alguma perda ou paixão não correspondida... Então por que se deixar abater?

Schulz morreu em 12 de fevereiro de 2000 e é de se pensar se esses pensamentos positivos, ou mostras de resistência, como a frase acima citada de Charlie Brown, não fossem um modo de o autor falar para si mesmo que o mundo não acaba diante de qualquer fracasso e que há aceitação até para os mais desajeitados. Bom, se Schulz não fazia isso, eu faço.