sábado, abril 30, 2011

O caminho...

Então... ele pelo menos tinha uma pedra no meio do caminho. Ou dentro do sapato, talvez. De qualquer forma, sortuda aquela pedra. Encontrou um cara bacana, podia ter conversado. E olha que ele não ficou nem um pouco alheio a ela. Dona pedra, tinha algo de sedutora para jamais ser esquecida. Estar ali, no meio do caminho, talvez tenha tornado as coisas mais heróicas, suponho. Será que eles conversaram? Deviam. Afinal, qual o mal em se conversar com uma pedra? Tem gente que conversa com santo, ou com lápides, mas jamais conversaria com uma pedra sem forma. Será que era grande? Devia ser, para ser tão notada.

Talvez errada estivesse a estrada, ou o caminho. Por que não desviou da pedra? Acho que a pedra e o caminho tinham algo em comum, como almas gêmeas que não podem ser separadas. Romântico isso: a pedra e o caminho, unidos eternamente. Comove mais que amor humano com suas idas e vindas que vão terminar num final duvidosamente feliz, que a gente mais inveja do que acredita. Mas, como diria o Professor, o final feliz satisfaz, é o que a gente anseia de verdade. O nosso final feliz.

E pensar no poeta... poxa! Um triângulo amoroso? O caminho e a pedra já estavam lá, daí vem o intrometido. Mas a pedra é fiel! Não se afastou. E se os três, de repente, conversaram? O que teriam dito?

No meu caminho não tem pedra nenhuma. Chato... mal dá pra bancar o herói e pular por cima da pedra gritando bem alto, o grito de um vencedor, ou de um animal...

O caminho só vai e cansa. Daí a gente senta no meio e vê se alguma pedra passa por nós.

Nós? Que nós?

quarta-feira, abril 20, 2011

Solidão

Sentar-se só. Nesse banco, que já foi ocupado por milhares de corpos desconhecidos, que conversavam alegremente, abraçavam-se, beijavam-se, ou apenas viam a vida passar. Devagar, como sempre. O banco que servia para o descanso das pernas ou para acalmar do coração.

Um corpo só. É apenas o que resta. O que resta é a comunhão com as árvores e os pássaros, que olharão e se deixarão tocar sem sentimentos que venham a comprimir o coração.

E tocar a terra, com os pés descalços, na mera busca de um toque que seja vivo, que tenha alma. Um corpo imenso que acolhe e abraça, que dará o último abraço, o beijo amante, a jura de amor eterno e a promessa de não abandono, jamais!

E o vento trás aqui os cheiros de quem já se sentou ao meu lado, que se distinguem entre todos os milhares de cheiros de todos os milhares de corpos que por aqui já passaram. Memória.

E a sombra de uma árvore a se agitar suavemente, ignorando a tristeza e explodindo em cor, em verde, em luz. Ferindo com tanta beleza em uma explosão de flores, que se desprendem com o vento e vem a roçar a pele...

Ignorante, a natureza é bela. Banha-se de sol. Luz que fere os olhos mas não atinge o coração. Derruba a consciência em lágrimas que não se secam, apenas transbordam... transbordam até que transforme a dor em cansaço, o ódio em cansaço, a esperança em cansaço, o medo em cansaço, o amor, a alegria, a vida, os sonhos... em cansaço.

Só. Só nos sobra o cansaço. A falta de vontade de sonhar, de crescer, de viver, de ser.


Até que surge novamente, aquele perfume estranho e familiar. A beleza estrangeira que nunca partiu do coração exilado. Daquele que busca sua terra e sua origem. A saudade de um território estranho, quase apagado na memória, o mundo dos sonhos, onde a comida é doce e os abraços infinitos, há apenas sorrisos e nenhuma dor.

O perfume acompanhado de uma nova forma. Acalmando a mente e toda a dor que possa haver em um coração. Essa dor que se converte em silêncio e que só acumula, não encontrando escape nem em um grito.
E o grito absurdo que não se ouve, só gela a alma, entorpece os sentidos e conduz a vigília. Vigília eterna, que virá a corroer por dentro tudo o que é bondade, só deixando o pesadelo e, enfim, o medo de dormir, apesar do cansaço.

A necessidade de estar alerta a cada sentimento novo e sem nome, que brotar de um coração. Tentar compreendê-los. Manter a mente alerta para o que o corpo já não sente.

Tudo isso sozinho, em silêncio. Só.