domingo, dezembro 13, 2009

Algumas bandas para você conhecer antes de terminar o ano

Certamente, meus leitores já devem ter percebido que esse blog não está preocupado em estar "antenado" com as últimas novidades da música ou do mundo. Pois bem, hoje estava ouvindo algumas musicas que me acompanharam por anos, e claro que não são músicas novas. Então, antes de acabar o ano, fica aí algumas dicas de bandas nem tão novas assim, mas que merecem ser conhecidas:



Pensei que Sepultura acústico não existisse, mas tá aí! Ficou bem legal o som!



O Blind Guardian é uma banda alemã precursora do power metal e de outras medievalidades que foram surgir na década de 1990. Faziam músicas sobre a obra de J. R. R. Tolkien muito antes do lançamento dos filmes e essa é sobre Bard, um personagem de The Hobbit que mata o dragão Smaug com sua flecha negra.



Stratovarius é uma das grandes bandas do metal melódico, mas faz tempo que não ouço nada de novo deles.



Jethro Tull é, na minha opinião, uma das bandas mais injustiçadas dos últimos tempos. Super criativos e com boa qualidade técnica foram influência para muitos roqueiros de vários estilos. Mas a MTV só lembra deles para falar que o tecladista mudou de sexo... Parece-me que o vocalista Ian Anderson ainda está na ativa. (Pena que essa gravação está ruim.)



Renaissance foi uma daquelas bandas que faziam o álbum inteiro com duas músicas de vinte minutos, mas sempre músicas muito bonitas e expressivas, que conseguiam ser suaves e fortes ao mesmo tempo. Além da bela voz de Annie Haslam, é importante ressaltar a influência do compositor Debussy, que contribuiu para trazer cores novas ao som da banda.



Cansado do mundo do show business, Ritchie Blackmore largou o Deep Purple, fez e desfez o Rainbow para, então, junto com sua futura esposa Candice Night, formar o Blackmore's Night. Observando a trajetória da banda é interessante observar como ela evoluiu de uma banda com poucos recursos para uma banda grande com vários músicos, figurino etc. Misturando músicas medievais e tradicionais ao pop e ao rock, essa é uma daquelas raras bandas que conseguem ser únicas.

Confesso que atualmente sei menos do que eu gostaria sobre o Arnaldo Batista. Essa música é a primeira do disco Loki, sem aquela felicidade de anti-depressivos dos Mutantes. E quem tiver a chance de ver o documentário, não perca.



Encerro com a Legião Urbana, uma banda mais do que conhecida para o pessoal da minha geração, mas que tem sido pouco lembrada. Ainda me emociono com suas músicas... e é isso.

Feliz Natal para os cristãos e um bom Ano Novo a todos!
Obrigado àquelas pessoas de todo o mundo que visitaram esse blog e contribuíram para que ele tivesse mais de 1000 visitas nesses últimos meses - pode não ser muito, mas é muito mais do que minha modéstia esperava.

quarta-feira, novembro 18, 2009

Fazendo arte

Tenho que confessar: queria ser artista. Gosto do trabalho deles e penso que, no geral, devem ser pessoas bem legais e interessantes - pelo menos antes de terem seu ego inflado em demasia... Mas, artista não sou. Talvez por falta de talento, ou de disciplina. Provavelmente os dois! E há ainda a questão do dinheiro, porque, para ser artista, você tem que ter algum dinheirinho guardado; principalmente pelo fato de que, cedo ou tarde, você possa vir a passar fome.

Estive pensando nessa questão e cheguei a conclusão de que deve ter sido legal o tempo em que todo artista, descaradamente, trabalhava para ganhar dinheiro. Hoje, isso é pecado! Veja bem, um bom artista deve viver para a arte e não da arte, pois ela é uma coisa sublime, que não pode ser medida ou avaliada em coisas tão banais quanto dinheiro...

Voltando à questão, deve-se perguntar por que motivo um artista abandonaria o amparo do mecenato: em prol da liberdade artística e da melhoria da arte? Bobagem! Camões era um belo de um puxa saco e, nem por isso, escreveu porcaria. O que diríamos ainda das obras de Rafael, Michelangelo e J. S. Bach que trabalharam para a igreja? E não vamos falar que a moda não pegou no Brasil, hein! D. Pedro II: bolso aberto para a arte!

Bom, mas os tempos são outros. O verdadeiro artista não deve estar pegado a instituições, principalmente (que Deus os livre!), à igrejaS. Além disso, para não cometer o erro de ficar famoso, deve dedicar sua obra para meia dúzia de "iniciados", na maior parte jornalistas e pessoas ligadas à universidade, que fingirão entender e gostar do que é exposto, escreverão resenhas e críticas, indicarão aos amigos e, um dia, chegará aquele figurão milionário que vai comprar a obra (caso seja possível) para depois leiloar e doar tudo para a caridade.

Espero que ninguém pense que estou falando mal dos artistas - ou de certo tipo de artista. Longe de mim! Como disse, eu bem queria ser um deles... Mas é tão difícil!

Se você quiser ser músico, por exemplo, deverá fazer aulas durante alguns anos, em um bom conservatório ou com um bom professor. Depois, você vai querer entrar em uma faculdade e logo, logo, vão olhar para o seu instrumento. Aí vem a bomba. Vai comprar um bom instrumento. Então percebe-se que não dá para virar músico sem desembolsar no mínimo uns trinta mil reais.

Ah, mas vamos para pintura e demais artes plásticas. Você pode ser bem criativo e modernoso fazendo arte com coisas que encontra na rua (leia-se sucata). Mas um dia vai chegar o momento quem que será necessário pintar um quadro, esculpir mármore, ou aço, ou bronze... então, corre atrás de um mestre que lhe ensine as técnicas; compra material; pensa, faz, sua, se machuca, termina e...

Talvez, o melhor negócio esteja nas artes cênicas. Vai lá, faz umas aulinhas de teatro... O que você precisa é, basicamente, seu corpo, agente, figurinista, diretor, outros atores, um teatro, ou uma emissora de TV, ou um diretor de cinema (se você for bastante versátil para transitar pelas três áreas!), contatos, patrocinadores e, se possível, seja bonito! É o mais importante de tudo!

Chegamos, por fim, à literatura. Pode-se dizer que para ingressar nesse mundo o único requisito básico é saber falar. Todavia, o mundo da literatura oral não tem lá muito prestígio; é mais como uma curiosidade para antropólogos e criaturas afins, embora possua um caráter formador de identidade muito importante para todos os povos. Mas o legal mesmo é escrever livros: vê-los impressos em letra de forma, por uma grande editora; vender milhões de cópias; e, como reconhecimento supremo, ver uns coitadinhos se batendo uns contra os outros na tentativa de tentar entender, explicar, super-valorizar aquilo que você escreveu! No entanto, nunca menospreze esses coitadinhos, eles são os melhores amigos e os piores inimigos que alguém poderia ter.

De início, diria-se que não é necessário nenhum apetrecho caro para começar a escrever. Um bom caderno e uma caneta já dariam conta do recado!

É, mas nem tudo é tão simples... lembram-se daqueles coitadinhos? Eles ralaram muito para se tornarem coitadinhos e, então, não vão deixar que você entre assim tão facilmente em seu reino encantado. Pode tratar de revirar as gramáticas de cima abaixo; ler todos os clássicos, de preferência no idioma original; perder o sotaque interiorano (paulistanês e carioquês são mais bem quistos); reforme o guarda roupa; participe de eventos sociais; aprenda a elogiar o trabalho dos outros (críticas, resenhas, poemas, contos, romances etc.); intere-se das vanguardas e das últimas tendências da arte inventadas na década de 1960; enfim, faça de sua pessoa um personagem. Aí, depois que gastar um bom dinheiro para se entrosar com o meio artístico e da crítica, virão sugerir-lhe que publique um livro, afinal, você é tão inteligente!

Pena que essa pompa toda não serviu para valorizar a arte! Tornou-se apenas hobby ou atividade para crianças no jardim da infância ("Olha que rabisco bonito" - disse a tia).

Triste.

terça-feira, novembro 10, 2009

Uma proposta interessante: filhos de políticos na escola pública

Ao que parece, a grande mídia não se preocupa muito com o estado da educação no país. Pelo contrário, só se volta para ela quando entra em questão um falso moralismo envolvendo algum vestido curto demais e outros assuntos tangentes de menor importância. Pois é, mas o que a mídia tem a ver com o caso?

É ela que se propõe como porta-voz da sociedade. Investiga. Influencia pessoas do povo e do governo. Cria heróis e vilões. Mas, principalmente, escolhe tudo aquilo que você deve ou não saber. É o quarto poder.

Em matéria de saber coisas (principalmente atualidades), confesso não ser especialista. Não que eu não possa vir a ser; isso se deve unicamente ao fato de que tenho outras ocupações no momento. Entretanto, essa manhã chega ao meu e-mail uma proposta bastante interessante do senador Cristovam Buarque: todos os agentes públicos eleitos deveriam matricular seus filhos na escola pública. Acho que não é necessário ser adivinho para saber onde vai parar um projeto de lei como esse. Todavia seria bastante interessante (além de divertido) ver um movimento da mídia, pressão popular, ou algo num estilo #forasarney, exigindo a aprovação imediata da lei.

É, mas essas coisas não acontecem. O projeto foi elaborado em 2007 e ainda esta (en)rolando através da burocracia do senado. Quem quiser mais informações é só conferir em:



NOTA: Não tenho qualquer tipo relação com o senador, nem com seu partido. Isso não é propaganda.

domingo, outubro 11, 2009

Onde estão nossos heróis?

A todos que se sentem órfãos de heróis

Em uma aula de alemão deveríamos escrever uma redação sobre alguma personalidade brasileira importante. Dentre todas as ilustres figuras que surgiram das redações dos alunos, uma foi bastante destacada: Elis Regina. Até a professora de aparência severa se comoveu e explicou o que a Elis representou para sua geração.

Em plena ditadura, ela dava voz aos anseios dos jovens e, talvez, até mesmo de pessoas mais velhas. Todos se preocupavam com ela, se, cedo ou tarde, os militares não iriam prendê-la, fazê-la sumir ou algo assim. Sem contar o seu talento como cantora e suas interpretações quase teatrais que faziam com que Elis conquistasse o seu público.

Devemos lembrar ainda da personalidade bastante generosa da cantora, que emprestou sua voz a canções de outros compositores, como Tom Jobim, Belchior, Adoniran Barbosa, entre outros, criando, assim, versões inesquecíveis de músicas como “Águas de Março”, “Como Nossos Pais”, “Tiro ao Álvaro”, “O Bêbado e a Equilibrista” e, provavelmente ainda muitas outras.

Mas, infelizmente, não vivi o tempo da Elis. Meu herói foi outro...

Hoje faz treze anos que Renato Russo morreu. Na época eu só tinha onze anos e confesso que mal sabia quem ele era. Mas fui conhecendo-o com o tempo, principalmente através de suas canções. Também ouvia entrevistas e assistia a vídeos, e, com o tempo, talvez eu tenha incorporado muitas coisas das músicas da Legião Urbana em mim – é assim que fazemos diante dos nossos heróis –, embora algumas lições sejam difíceis de entender, como o fato de que só há perfeição em nossos sonhos, que para dominar o mundo basta aprender a amar e que liberdade é pensar por si mesmo. É, talvez isso soe muito piegas ou clichê, mas, de fato, suas ideias e sua música me agradaram, eu escolhi ouvi-las por um longo tempo e as ouço até hoje. Nem o Renato Russo, nem a Legião me foram impostos, descobri um pouco por conta própria ou com a ajuda de meu irmão, amigos e da precária Internet discada que existia lá pelos anos de 1996 à 1998.

Em meio a sentimentalismos e comoções, é estranho notar que estes nossos heróis, como todos os seres humanos, um dia se cansaram. Quiseram deixar de ser heróis. Renato brincava bastante com isso, de um jeito às vezes provocador que muitas vezes beirava a insensatez, e em uma de suas entrevistas disse que não existiam heróis e que essa ideia era muito perigosa, principalmente pelo fato de que há sempre a possibilidade de se descobrir que seu ídolo tem pés de barro.

Hoje em dia os heróis são feitos de um material barato, apenas para serem vendidos e estragados. Confesso que tenho muito pouco apreço pelos tempos modernos, especialmente pelo que circula no meio musical de mais fácil acesso. Não que não existam pessoas boas; elas estão bem escondidas, são perigosas...

Sobre uma época em que não vivi, só posso fazer conjecturas, mas me parece que Elis Regina foi um raio de sol que despontava em meio as nuvens de chuva e tempestade. Renato Russo talvez seja como o por-do-sol do último dia de inverno, uma pausa meditativa em terra aparentemente estéril, mas pronta para renascer.


URBANA LEGIO OMNIA VINCIT
Ouçamos no volume máximo

quarta-feira, outubro 07, 2009

A menina que roubava livros


Ao pegarmos o livro na mão esperamos por uma história bastante interessante. Afinal, que tipo de história poderíamos ouvir da própria Morte? Sem contar o fato de que qualquer bibliófilo que tem em mãos um volume de mais de quatrocentas páginas já tem uma pré-disposição natural à simpatizar com a pequena ladra.

O cenário é bastante interessante: durante o regime nazista e a Segunda Guerra Mundial. Uma época em que os livros, talvez mais do que lidos, também eram queimados em grandes fogueiras em praças públicas. Um saber perigoso ou uma simples história cujo protagonista não é um autêntico alemão, representante do povo e da raça superior, já são motivos suficientes para que o material que poderia aquecer o espírito vire um mero combustível para gerar uma luz de ferir os olhos e aquecer os corpos.

Entretanto, parece que Markus Zusak teve bem pouco tempo para escrever sua longa história, deixando muitas pontas soltas ou exagerando no pieguismo.

Vejamos a nossa ilustre narradora: para tentar fugir dos clichês mais comuns sobre a Morte, Zusak retirou-lhe a foice e o rosto esquelético; modificou-lhe um pouco o trabalho, tornando-a mais uma carregadora de almas do que a morte em si; deu-lhe um coração capaz de, por quaisquer motivos que não são explicados, afeiçoar-se por determinados seres humanos. Mas a Morte manteve seu caráter quase sobrenatural de estar em todos os lugares possíveis ao mesmo tempo, na hora exata em que deve recolher uma pobre alma e levá-la sabe-se lá para onde. Está aí o primeiro defeito da obra, em minha modesta opinião. Para onde vão essas almas? Para o céu? Ou para o inferno? Irão para uma sala de espera gigantesca onde deverão esperar por toda a eternidade até que a burocracia inerente a justiça divina decida julgar o caso particular de cada indivíduo para, enfim, decidir para onde enviá-lo? Ou será que a Morte apenas carrega as almas para ir dar uma voltinha de barco com o tio Caronte?

Em meio a esse trabalho sem finalidade, é estranho ver a Morte reclamar das milhares de almas que deve carregar durante a guerra ou o massacre dos judeus. Além disso, se a narradora pode estar em tantos lugares e acompanha a morte de cada um, porque nunca sabemos o destino da mãe da roubadora de livros?

Pois bem. Ignorando a inconsistência da narradora, algo que já irá nos perturbar durante toda a leitura, somos colocados frente a pequena Liesel Meminger. Enviada a uma família adotiva, provavelmente porque a mãe fugia de perseguições políticas, a menina deve logo se acostumar com a nova família e lidar com a perda do irmão mais novo. Sua vida na rua Himmel (que quer dizer céu em alemão) é muito dura, pois a guerra impede que o pai e a mãe consigam dinheiro suficiente até mesmo para comer. Em meio a situação difícil a família ainda resolve abrigar o judeu Max Vandenburg em sua casa, mesmo com o risco de serem condenados por traição à ditadura hitlerista.

Nota-se que Zusak tentou por todos os meios fugir de clichês, lançando o olhar sobre uma família que conseguiu escapar do discurso convincente do Führer, aparentemente, pelo simples fato de terem um bom coração...

Apesar dos defeitos como obra literária, não tenho muita dúvida, de que A menina que roubava livros daria um ótimo filme. Zusak, com certeza, sabe construir imagens tocantes... só não sabe concatená-las de modo que consigam um bom efeito sobre o leitor. Mas essas imagens, se vistas rapidamente, sem muito tempo para pensar – bem à maneira dos filmes de Hollywood – certamente funcionarão bem.

Agora, aguardemos o filme. Por enquanto acho que ninguém ainda se propôs a filmar a obra, o que será um desperdício.

Alguns romancistas dão ótimos roteiristas.

domingo, outubro 04, 2009

Uma piada infame

Sinceramente, não resisti a fazer isso. Mas, eis um poste novo no blog:


Pelo menos é bonito. Fica na Praça Pedro de Toledo, mas foi rejeitado para o Google Earth.

quinta-feira, outubro 01, 2009

Site do Movimento Violão

No dia 4 de junho, coloquei aqui um post sobre o Movimento Violão. Agora o projeto conta também com um site muito bonito e que vale a pena visitar. O endereço é:

http://www.movimentoviolao.com.br/

quarta-feira, setembro 23, 2009

Vamos todos ser professores

Fato: moramos em um país onde o profissional da educação é, em geral, desvalorizado, a despeito de sua indiscutível importância. Diante desse fator, associa-se ainda a questão da qualidade do ensino, ao mesmo tempo em que se busca desesperadamente encontrar os culpados pela má (ou péssima) qualidade geral do ensino, que leva o governo a tentar mascarar a crise simplesmente baixando os padrões de exigência dos alunos.

O interessante disso tudo é o programa de incentivo lançado pelo MEC para convencer as pessoas a se tornarem professores.



Repare-se que não se fala em plano de carreira, aumento salarial, melhoria das condições de trabalho, tais como escolas limpas e bem estruturadas arquitetonicamente, salas de aula onde se consegue respirar, durante o verão, e outras coisas básicas como essas. E também ninguém comenta que há falta de professores no país, mas nem por isso o profissional vale mais (lembram da lei da oferta e procura?). Talvez exista uma preocupação com o fato de que os alunos mais brilhantes procurem outras profissões, ligadas às áreas da biologia, do direito ou da produção tecnológica.

Ainda sobre o comercial, também não é necessário comentar que não somos a França, nem a Alemanha, nem a Coréia, nem a Finlândia, países que, digamos, tem um pouco mais de história do que nós. Mas não é desculpa, só precisamos criar uma nova disposição mental, de modo que o ensino e o profissional da educação sejam valorizados. Por exemplo:


Bem, aqui temos uma propaganda e uma reportagem, uma quer te convencer e outra te informar. Mas qual convence mais?

domingo, setembro 20, 2009

Ossos com farofa


Não, o Ideias Modestas não vai ensinar a fazer qualquer tipo de trabalho em encruzilhada ou coisa parecida. É que há algumas coisas no mundo pop que são realmente engraçadas.

Provavelmente vocês já devem ter visto um adesivo com essa caveira colada em algum carro velho circulando por aí. Ou você mesmo colou uma dessas no seu caderno, fazendo o maior sucesso na escola quando tinha lá os seus treze anos, mas nunca soube de onde veio essa “assustadora” figura.

Bom, a banda chamada The Misfits não é, de fato, tão popular quanto seu mascote ossudo, mas, vez ou outra tem suas aparições na MTV com clipes assustadores e outras coisas que não tem nada a ver com música, mas que a MTV consegue sempre arrumar um bom motivo para mostrar.

Mas, vejamos: uma banda chamada The Misfits, ou “os desajustados”, nome que vem de um filme com participação da Marilyn Monroe; visual de caveira; muita maquiagem e um som que parece pesado, mas não é tanto assim, tendo até direito a uns “Ôôôô, ôôôs”... Fórmula bem conhecida, não acham?

Parece que, pelo menos nisso, os considerados fundadores do horror punk foram originais e fizeram escola, com Nine Inch Nails, Marilyn Manson (ligação interessante não?), sem falar de todas as emotividades atuais.

Já que dizem que eu escrevo muito, fico por aqui. Assistam ao clipe, deem risada, depois procurem alguma coisa realmente boa para ouvir!




Notas:
1) aqui eles até que pegaram um pouco pesado, mas a farofada deles é brava;
2) esse post é para comemorar a ultrapassagem da marca de 666 visitas.

quinta-feira, setembro 17, 2009

Então... quem faz Letras é...

Post dedicado aos meus colegas de curso

Após um certo tempo de ausência, volto com um assunto, talvez, nada modesto, mas muito incômodo para mim.

Formei-me ano passado com os pomposos títulos de bacharel e licenciado em letras. Porém, na prática, o que isso quer dizer? Bom, a parte do licenciado é bem fácil de responder: posso ser professor. É claro que, nesse ponto, deve-se desprezar o fato de que minha formação pedagógica foi feita por pessoas que, embora tenham feito seus doutorados nos EUA, na Inglaterra e na França, jamais pisaram numa escola pública e trabalham apenas com ideais de aluno, organização administrativa e espaço físico, elaborando teorias fantasiosas de como é o jeito certo de dar aula.

Talvez seja por esse motivo que a classe dos professores anda tão por baixo, afinal, além desses professores velhos, mas inexperientes, eles devem lidar com toda uma camada de economistas, jornalistas e “etecéteras”, que sabem tudo, e absolutamente tudo, sobre educação! Para não falar dos pais que sempre consideram seus filhos uns anjinhos!

Entretanto, a pergunta que não quer calar é: o que faz o bacharel em letras?

Ao contrário da maioria das profissões respeitadas, o bacharel em letras carece de um nome que designe sua profissão, algo bem irônico para um curso que lida essencialmente com palavras. Note-se que as outras profissões têm a alegria de ter seu próprio nome! Por exemplo: quem faz medicina é médico; quem faz engenharia é engenheiro; quem faz jornalismo é jornalista; quem faz administração é um administrador; quem faz pedagogia é pedagogo; quem faz publicidade e propaganda é publicitário, quem faz direito é... ops! Se não passar na OAB fica no limbo dos profissionais desencaixados...

Mas, voltando ao assunto, poderíamos ter muitos nomes para designar nossa profissão, tais como letreiro, letrista, letrado, letrador, letrante, letrário... alguns até prefeririam o termo “literato”, que soa bem chique, dando um verniz cultural bastante raro àquele que o carrega. Esperto mesmo foi o pessoal da linguística que criou uma área própria e se chamou de linguista, apesar de que a maioria das pessoas acha que linguista é aquele que sabe muitas línguas.

Antes de continuar, devo explicar o porquê desse tópico. Depois da celeuma causada em torno da queda da obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão, simplesmente achei que seria mais do que justo refletir sobre o curso que fiz. Ainda mais pelo fato de que tanto nós quanto os jornalistas trabalhamos primariamente com o mesmo material: a palavra. Mas a grande diferença é o acesso ao discurso.

Exemplifico. Já imaginaram o quanto é desagradável ver aquilo que você tanto preza ser tratado com descaso, seja por maldade, preguiça ou pura ignorância? Pois é o que frequentemente acontece com a literatura. Nada mais triste do que ver o que se publica em jornais e revistas não especializados. Agora, por que não chamar alguém que estudou aquilo para falar sobre?

Durante os quatro bizarros anos de nossa existência universitária estudamos linguística, literatura, pelo menos uma língua estrangeira e um pouco de sua literatura, temos que correr um pouco atrás de história, para entender os movimentos literários etc. Apenas na seara da literatura, temos que lidar com três tipos básicos de texto: poesia, teatro e prosa. Na parte de língua portuguesa, além do tradicional gramatiquês que a gente deverá ensinar na escola, a semântica e a retórica se apresentam como matérias bastante interessantes.

Bom, acho realmente uma pena que não tenhamos disciplinas como um creative writing, por exemplo, ainda mais se considerarmos que boa parte dos ingressantes em letras gosta de escrever e arrisca até suas próprias narrativas e poemas... Estudamos muito o que os outros fizeram e somos incapazes de dar forma às nossas próprias criações, sendo cada vez mais chutados para o mal valorizado trabalho escolar.

Todavia, deve-se considerar que à essa formação bastante ampla, somam-se ainda os talentos (ou destalentos) individuais de cada um, como o interesse por música, cinema, artes plásticas e afins, campos que parecem de especial interesse da semiótica.

Então, por que não temos a nossa voz?

Ah! Não quero ser só um repositório de palavras ou de regras gramaticais... não me perguntem sobre o acordo ortográfico... também sei pensar! E leio muito mais entrelinhas que a maioria das pessoas.

Aviso aos que quiserem entrar no mundo das Letras: penetrem surdamente no reino das palavras, abram seus ouvidos, encantem-se, e saiam mudos.

sábado, setembro 12, 2009

Ausência...

Cabeça cheia de ideias, mas pouco tempo para por em prática. Volto muito em breve.

Obrigado ao professor Zé Pedro por falar do meu blog no último Oxouzine! Pena que não acertou o nome. Mas tá valendo!

sábado, agosto 29, 2009

Teatro de Bonecos em Araraquara - Post relâmpago

Olá, pessoal

O tempo continua curto, mas vamos ao que interessa.

Hoje começa a "Mostra Sesi de Teatro de Bonecos", em Araraquara, com o espetáculo "E Se... do Grupo Tato Criação Cênica. A peça terá duas sessões, no teatro do Sesi: 29 de agosto às 19h e 30 de agosto às 17h.

Amanhã também tem uma montagem de Frankenstein da Cia. Polichinelo no Sesc às 11h. Este estou bem curioso para assistir.

Até breve!

terça-feira, agosto 25, 2009

Semana corrida...

Infelizmente, tive uma semana bastante corrida e não deu para escrever nada... Espero conseguir alguma coisa até sexta-feira!

Quem ainda não respondeu, por favor, responda minha enquete! Quero conhecer melhor meus leitores e muito obrigado aos amigos que recomendam meu blog!!!!

domingo, agosto 16, 2009

Der neuere (glücklichere) Werther - O mais novo (mais feliz) Werther

Essa é mais uma tradução de uma anedota de Heinrich von Kleist. Para quem se interessar, eu pego esses textos no Projekt Gutenberg - DE. Para quem não conhece, essa anedota é uma sátira do famoso Os sofrimentos do jovem Werther de Goethe, obra que ficou famosa por, supostamente, ter provocado uma série de suicídios em toda a Europa. A obra de Goethe foi traduzida para várias línguas e dizem que o jovem Werther chegou até mesmo a estampar porcelanas chinesas. Para quem ainda não conhece o romance goethiano, de sua fase Sturm und Drang, tá aí uma boa sugestão de leitura. Por ora, fiquem com "O mais novo (mais feliz) Werther".

(abaixo uma ilustração do velho Werther, com seu colete azul e suas calças amarelas)



Der neuere (glücklichere) Werther


Zu L..e in Frankreich war ein junger Kaufmannsdiener, Charles C..., der die Frau seines Prinzipals, eines reichen aber bejahrten Kaufmanns, namens D..., heimlich liebte. Tugendhaft und rechtschaffen, wie er die Frau kannte, machte er nicht den mindesten Versuch, ihre Gegenliebe zu erhalten: um so weniger, da er durch manche Bande der Dankbarkeit und Ehrfurcht an seinen Prinzipal geknüpft war. Die Frau, welche mit seinem Zustande, der seiner Gesundheit nachteilig zu werden drohte, Mitleiden hatte, forderte ihren Mann, unter mancherlei Vorwand auf, ihn aus dem Hause zu entfernen; der Mann schob eine Reise, zu welcher er ihn bestimmt hatte, von Tage zu Tage auf, und erklärte endlich ganz und gar, daß er ihn in seinem Kontor nicht entbehren könne. Einst machte Herr D..., mit seiner Frau, eine Reise zu einem Freunde, aufs Land; er ließ den jungen C..., um die Geschäfte der Handlung zu führen, im Hause zurück. Abends, da schon alles schläft, macht sich der junge Mann, von welchen Empfindungen getrieben, weiß ich nicht, auf, um noch einen Spaziergang durch den Garten zu machen. Er kömmt bei dem Schlafzimmer der teuern Frau vorbei, er steht still, er legt die Hand an die Klinke, er öffnet das Zimmer: das Herz schwillt ihm bei dem Anblick des Bettes, in welchem sie zu ruhen pflegt, empor, und kurz, er begeht, nach manchen Kämpfen mit sich selbst, die Torheit, weil es doch niemand sieht, und zieht sich aus und legt sich hinein. Nachts, da er schon mehrere Stunden, sanft und ruhig geschlafen, kommt, aus irgend einem besonderen Grunde, der, hier anzugeben, gleichgültig ist, das Ehepaar unerwartet nach Hause zurück; und da der alte Herr mit seiner Frau ins Schlafzimmer tritt, finden sie den jungen C..., der sich, von dem Geräusch, das sie verursachen, aufgeschreckt, halb im Bette, erhebt. Scham und Verwirrung, bei diesem Anblick, ergreifen ihn; und während das Ehepaar betroffen umkehrt, und wieder in das Nebenzimmer, aus dem sie gekommen waren, verschwindet, steht er auf, und zieht sich an; er schleicht, seines Lebens müde, in sein Zimmer, schreibt einen kurzen Brief, in welchem er den Vorfall erklärt, an die Frau, und schießt sich mit einem Pistol, das an der Wand hängt, in die Brust. Hier scheint die Geschichte seines Lebens aus; und gleichwohl (sonderbar genug) fängt sie hier erst allererst an. Denn statt ihn, den Jüngling, auf den er gemünzt war, zu töten, zog der Schuß dem alten Herrn, – der in dem Nebenzimmer befindlich war, den Schlagfluß zu: Herr D... verschied wenige Stunden darauf, ohne daß die Kunst aller Ärzte, die man herbeigerufen, imstande gewesen wäre, ihn zu retten. Fünf Tage nachher, da Herr D... schon längst begraben war, erwachte der junge C..., dem der Schuß, aber nicht lebensgefährlich, durch die Lunge gegangen war: und wer beschreibt wohl – wie soll ich sagen, seinen Schmerz oder seine Freude? als er erfuhr, was vorgefallen war, und sich in den Armen der lieben Frau befand, um derentwillen er sich den Tod hatte geben wollen! Nach Verlauf eines Jahres heiratete ihn die Frau; und beide lebten noch im Jahr 1801, wo ihre Familie bereits, wie ein Bekannter erzählt, aus 13 Kindern bestand.



O mais novo (mais feliz) Werther

Em L...e, na França, havia um jovem funcionário de um comerciante, Charles C..., que secretamente amava a mulher de seu patrão, um homem de negócios rico, mas idoso, chamado D... . Virtuosa e honesta, como ele a conhecia, não fazia a menor tentativa de ganhar sua simpatia; e ainda menos, pois estava amarrado ao seu patrão por laços de gratidão e respeito. A mulher, que por compaixão ao seu estado de saúde que ameaçava piorar, pediu ao marido, sob vários pretextos, para que se afastasse de casa; o marido adiava a viagem, para a qual se designara, dia após dia; e finalmente esclarecia bem, que não podia se dispensar de seus negócios. Depois de um bom tempo, o Senhor D... e sua esposa viajaram para a casa de um amigo, nos campos, deixando para trás, o jovem C..., para conduzir os negócios de sua loja. À noite, quando todos já dormem, o jovem – movido por quais sentimentos eu não sei –, sai para dar ainda mais um passeio no jardim. Ele passa pelo quarto de dormir da cara esposa e para, quieto; coloca a mão na maçaneta; abre o quarto: o coração quase lhe sai pela boca à vista da cama, na qual ela costumava descansar. Depois de alguma luta consigo mesmo, ele comete a tolice; porque certamente ninguém o observava, despe-se e deita na cama. De madrugada, depois que ele já havia dormido por várias horas em paz e tranquilidade, por qualquer motivo que aqui não nos importa, o casal inesperadamente volta à casa; e, quando o velho senhor com sua esposa entram no quarto, eles encontram o jovem C..., já meio erguido da cama, alarmado com o barulho que seus senhores provocaram. Vergonha e perplexidade se apoderam dele. E quando o casal desconcertado volta e desaparece novamente no cômodo pelo qual eles haviam chegado, ele se levanta e se veste. Vai furtivamente até o seu quarto, cansado de sua vida, e escreve uma breve carta para a mulher, na qual esclarece o incidente; e, com a pistola que ficava pendurada na parede, atira contra o próprio peito. Aqui termina a história de sua vida; mas, todavia (estranho o suficiente) só aqui ela começa de fato. Pois, em vez dele, o jovem, que considerava valioso demais para matar, o tiro veio a atingir o velho Senhor, que se encontrava no quarto ao lado, provocando-lhe um derrame: o senhor D... morreu em poucas horas, sem que a arte de todos os médicos, que foram chamados, fosse capaz de salvá-lo. Cinco dias depois, quando o senhor D... já estava bem enterrado, o jovem acordou – o tiro havia lhe atravessado o pulmão, porém sem risco de vida. E quem descreve perfeitamente – como devo dizer, sua dor ou sua alegria? – quando ele descobriu o que tinha acontecido e que se encontrava nos braços de sua amada, pelos quais ele quis se entregar à morte! No decorrer de uns anos, ele se casou com a mulher; e ambos ainda viviam, no ano de 1801, quando sua família já contava com treze filhos, como um conhecido relata.

sábado, agosto 08, 2009

In the name of Bach – música viva

A ideia sobre esse post surgiu de uma rápida leitura dos primeiros capítulos de O Discurso dos Sons: Caminhos para uma nova compreensão musical de Nikolaus Harnoncourt. Para quem não o conhece, Nikolaus Harnoncourt foi um dos grandes nomes envolvidos na interpretação autêntica de música antiga (antes de Beethoven), isto é, a execução das obras com instrumentos antigos, procurando se aproximar, o máximo possível, de como a música teria sido ouvida na época em que foi composta.

Mas Harnoncourt não pretende construir nenhuma “doutrina” da interpretação histórica e explica que essa ideia de música “antiga” foi algo que surgiu apenas após a Revolução Francesa. Antes desse período, conforme o autor explica, a música era vista como uma arte mais viva, intimamente relacionada ao cotidiano das pessoas. Não existia ainda a ideia de “interpretar grandes mestres do passado”. Essa música antiga era utilizada mais para fins de estudo e, se por acaso fosse levada a concerto, a composição era atualizada, assumindo, assim, o caráter de sua época.

Esses primeiros capítulos do livro de Harnoncourt são escritos em um certo tom de lamento pelo empobrecimento que a música (e as artes em geral) sofreram, em nome do conforto ou de novos brinquedinhos tecnológicos. Conforme o autor:


“Os valores que os homens dos séculos precedentes respeitavam não nos parecem, hoje, importantes. Eles consagravam todas suas forças, todos seus esforços e todo seu amor a construir templos e catedrais, ao invés de dedicarem-se à máquina e ao conforto. O homem de nossa época dá mais valor a um automóvel ou a um avião que a um violino, mais importância ao planejamento de um aparelho eletrônico que a uma sinfonia. Pagamos um preço bem alto por aquilo que nos parece o cômodo, o indispensável; sem nos darmos conta, rejeitamos a intensidade da vida em troca da sedução enganadora do conforto – e aquilo que verdadeiramente perdemos, jamais recuperaremos.”


Assim, a música deixou de ter um sentido profundo. Deixou de ser “a linguagem viva do indizível”, como diz o autor, para ser apenas ornamento para a vida comum. Ela perdeu a sua capacidade de transformação no ser humano – tanto o ouvinte como o músico. Ironicamente, isso se agravou ainda mais quando a música se tornou mais acessível, através de gravações, rádio etc. Hoje ouvimos música apenas para preencher o vazio provocado pelo silêncio; aquele vazio que nos traz uma solidão e que, quase inevitavelmente, pode levar a um confronto com o próprio eu.

A proposta de Harnoncourt, com seu retorno à música antiga e ao aprofundamento da interpretação histórica é uma tentativa de re-encontrar a música de nosso tempo, procurando uma forma de compreensão musical mais próxima da dos grandes mestres.

Em meio a isso tudo, surge-me uma figura muito interessante chamada Alex Masi. Seu CD, intitulado In the name of Bach, chegou às minhas mãos como um presente de aniversário (Obrigado, Leandro Ferro!) e nele estavam gravadas composições para teclado e violino do maior músico de todos tempos, arranjadas e interpretadas na guitarra elétrica (com direito a distorção e tudo, em algumas faixas). O resultado poderia parecer uma blasfêmia para alguns ouvintes mais conservadores, mas Masi, não deixou de, ao seu modo, reviver a música de J. S. Bach.

O mais interessante são as tentativas de catalogação empreendidas pelos sites de venda. É Bach, mas tocado na guitarra... até com distorção! Então vai para a prateleira de heavy metal.

Falando do CD, propriamente dito, considero o resultado bastante interessante e que certamente merece ser ouvido. Com o uso de diversos efeitos, sua guitarra assume sons que ora lembram o cravo ora o orgão, mas sem perder aquela característica maravilhosa do som de cordas dedilhadas. Na Sicilliano em Dó menor da Sonata para violino e cravo BWV 101, o guitarrista consegue um ótimo efeito, que resgata o som dos instrumentos originais para os quais a música foi composta acrescentando-lhe um toque de modernidade, no mínimo inesperado.

Confesso que também sou um grande admirador da reconstrução histórica das composições dos grandes mestres do passado. Porém, de forma alguma devemos deixar de prestigiar esse fabuloso guitarrista. Seu trabalho tem muito mais prós do que contras e sua técnica é impecável. Em minha modesta opinião, suas interpretações conseguiram, de fato, reviver uma grande música, criando uma ponte entre o século XVIII e o nosso.

Para quem não conhece Bach, está aí um ótimo jeito de começar!

domingo, agosto 02, 2009

O Descobrimento do Brasil e a redescoberta da Legião Urbana


Muitas pessoas torcem o nariz ao ouvir falar da Legião Urbana; outras ainda demonstram entusiasmo, quando algum trecho de uma canção qualquer da banda lhe chega aos ouvidos. Mas ninguém fica indiferente ao grupo. Daqueles que torcem o nariz é comum escutar comentários do tipo: “ah, eles só tocavam três acordes”, “a Legião não canta nada com nada” ou “quando se ouve a Legião cantar alguma coisa realmente boa, pode crer que o Renato Russo roubou de alguém”, além do bastante clássico “Eles copiavam os Smiths!”.

Acho que a Legião foi a primeira banda da qual fui fã – sem contar os lendários Mamonas Assassinas, quando eu ainda era bem pequeno. Lembro-me de que meu irmão apareceu aqui em casa com uma fita cassete, que tinha uma gravação de Faroeste Caboclo, ao vivo. Nunca tinha ouvido nada parecido. Aquela música enorme, de pouco mais de nove minutos, cheia de variações, com uma letra de quatro páginas e uma história fascinante. Não demorou muito para eu aprender a letra todinha, como o fizeram muitos de minha geração.

Algum tempo depois meu irmão comprou o CD Que país é este. De início eu me contentava em ouvir apenas a Faroeste, ainda fascinado em meus 11 anos de idade. Aos poucos, fui arriscando ouvir a música seguinte (Angra dos Reis), depois a música anterior (Eu Sei). Aí parei de novo encantado. “Por que é mais forte quem sabe mentir?” Certo dia, ouvi o CD todo. Não me decepcionei. Assim eu começava a aprender a gostar de música. No ano seguinte comecei a ter aulas de violão.

Alguns até podem dizer: “Poxa, começou mal, hein!” Não concordo. E também não acho que a musicalidade da Legião Urbana seja tão pobre assim. Mesmo que o Renato Russo até brincasse, dizendo “Como compor 43 sucessos com apenas 3 acordes”, o fato é que em poucas bandas se pode notar uma evolução técnica como aconteceu com a Legião.

Em uma rápida retrospectiva: 1) Legião Urbana – o primeiro disco da banda, gravado em 1985, saiu com o fim da ditadura, o som ainda bastante crú, mas já com alguns sucessos como Será, Ainda é Cedo e Geração Coca-cola, além de outras músicas bem legais mas pouco conhecidas como A Dança e O Reggae; 2) Legião Urbana: Dois – clássicos como Tempo Perdido, Eduardo e Mônica e Índios, além da primeira música instrumental da banda, Central do Brasil. 3) Que País é Este: disco que reunia uma série de composições antigas, dentre elas a Faroeste Caboclo e Química, que, segundo a lenda foi uma das músicas responsáveis pelo rompimento do Aborto Elétrico; 4) As Quatro Estações – considerado por muitos como o melhor disco da banda, é o disco que contém Há Tempos, Pais e Filhos, Quando o sol bater na janela do seu quarto e Monte Castelo; 5) Legião Urbana: V – foi o disco menos vendido da banda, mas ainda assim, teve seus clássicos como Metal contra as nuvens e Teatro dos Vampiros, além da segunda música instrumental da banda, A ordem dos templários.

Chegamos, enfim, ao Descobrimento do Brasil. Um disco que vale a pena ser ouvido e só peca pelo fato de ser muito curto, tem cerca de 44 minutos. Aqui sim, realmente se pode notar como a Legião evoluiu com o passar dos anos, pois, se a harmonia ainda é simples, os arranjos se tornaram mais sofisticados. Cada música parece ter a sua sonoridade própria, sendo inovadora, ao mesmo tempo que carrega os traços mais característicos da banda. Nesse disco se tornam mais perceptíveis seus traços medievalistas, já bastante marcados na temática e nos arranjos do V, e é bastante interessante o uso da sítar da música Love in the afternoon.

Nesse disco, as letras falam, em sua maioria sobre o tema da despedida – mesmo que o álbum se chame “o descobrimento”. Pode parecer estranho, mas essa temática é tratada de várias formas: pode ser a despedida de um amigo que se foi; a despedida de um modo de vida; a despedida da infância; a despedida de coisas ruins... talvez seja a despedida como um novo começo, ou como um impulso que leva a tal. A faixa título insinua esse novo começo: uma relação que transita entre o amor e a amizade de um “rapaz direito” escolhido “pela menina mais bonita”.

Mas não pretendo dissecar algo que é tão especial para mim. Depois de um longo tempo mergulhado nos clássicos, barrocos e progressivos, ouvi novamente a Legião, e especialmente esse CD, e não fiquei decepcionado. Foi como abrir uma caixa escondida no fundo do armário e descobrir que ela está cheia de moedas de ouro.

Em 2009, faz 13 anos que o Renato Russo morreu e a Legião Urbana acabou. Na minha opinião, ainda não surgiu nenhuma outra banda que pudesse se equiparar em criatividade e qualidade. Em nenhum disco a banda repetiu “fórmulas consagradas” e, se se enquadrava no amplo campo do nosso variado rock nacional, manteve sempre algo de peculiar, algo que era só da Legião.

Sua qualidade não consistia no virtuosismo instrumental, nas milhares de notas tocadas em um segundo ou em harmonias complexas, elementos típicos do metal ou da MPB. A qualidade estava no equilíbrio entre uma boa letra e uma música adequada, que não competia para saltar ao primeiro plano, mas que também não era apenas um acessório para uma letra bem construída. Num equilíbrio especial entre esses dois elementos, algo bastante raro de se encontrar.

Creio que este tópico tenha ficado bastante pessoal.

Estou carente de heróis.

"Força Sempre"

terça-feira, julho 28, 2009

Araraquara e suas mudanças


Passando outro dia pela recém reformada fachada da Igreja Matriz, fiquei pensando sobre as probabilidades de que algum dia esse gigante arquitetônico fosse concluído. Diante de algumas recentes reformas na cidade, não julguei de todo improvável que tal empreitada fosse levada a cabo, e que o universo araraquarense estivesse andando em um sentido pouco habitual, isto é, para frente. Não sei ao certo se é uma nova configuração celeste, intervenção divina, evolução ou mero acaso. O fato é que algo realmente pode estar mudando.

Tudo parece ter começado no dia em que resolveram reformar a rua dois. Até hoje há calorosas e infrutíferas discussões sobre a circulação de automóveis naquele local. Entretanto, apesar calçada nova e tudo, não é mentira que a rua continua feia, a diferença é que, onde antes mal passavam pedestres e carros, agora pelo menos sobre as próprias pernas é possível transitar.

Mais recentemente, o alvoroço se deu na rua cinco, o Bulevard dos Oitis. Houve até uma patética “sessão de fotos” para retratar a beleza que seria perdida com a reforma. Para não falar o trabalho que deve ter sido conter as dezenas de dedos enrugados que insistiam em arremessar descuidadamente os paralelepípedos “ao seu local original”, ou seja, no meio da rua. Contudo, a despeito de tantos esforços para conter as obras, elas foram concluídas. E, o mais importante, nenhuma árvore foi ferida durante as reformas.

Também não será sem um certo aperto no coração que nos despediremos dos famigerados trilhos que cortam a cidade. Depois de tantas e tantas campanhas eleitorais terem se ocupado com o tema, e a mente araraquarense ter se dado ao luxo de criar as mais maravilhosas fantasias a respeito do novo espaço a ser ocupado, parece que hesitamos em deixá-los ir, pedimos aos trilhos para que fiquem, literalmente, entre nós, assim, nos dividindo por mais um pouquinho de tempo, tão bonito!

Mas qual é não é o meu espanto ao notar uma movimentação estranha, em frente à Igreja Matriz. Já me tinha sido bastante difícil de acreditar que a reforma da fonte se dera sem maiores percalços; e agora, estariam querendo finalmente terminar a igreja? Ou será que os meus sentidos se enganaram?

Deixando minha imaginação um pouco às soltas, creio que deve haver chegado à cidade algum arquiteto desavisado ou meramente alguém imbuído de espírito empreendedor, como é moda nesses tempos, que não tenha se contentado com o aspecto inacabado de nosso magnífico monumento. Chegando à cidade dirigindo seu carro bi-combustível, modelo 2009, nosso empreendedorista não deixou de notar a maravilhosa cúpula que se destacava em meio a tantos outros prédios, com suas janelas quadradas, monótonas e pouco interessantes. Mesmo sem conhecer o caminho, deixou-se guiar pelo gigante arquitetônico do mesmo modo que, talvez, em tempos antigos, três reis se deixaram guiar ao lugar do nascimento de Cristo.

Contudo, que decepção ao se aproximar do edifício. Além do seu aspecto inacabado, com tijolos nus pela maior parte de seu corpo e contrastando com a fachada rebocada, o gigante já mostrava sinais de deterioração. Em um canto cresciam – à revelia das mãos humanas que, em seu árduo trabalho, acreditavam construir mais uma morada para o Santíssimo – um ramo de plantas, já bem vistosas, que até provocaria um bonito contraste entre o verde de seus ramos e o alaranjado pálido dos tijolos, caso não fosse indesejada. Os degraus, já gastos, e alguns buracos aqui e ali, também não causavam melhor impressão.

Olhou em volta e deu de cara com aqueles vasos assustadores, adornados com caretas chifrudas, sempre a sorrir maliciosamente. Logo atrás de si, estava a fonte, visivelmente recém reformada, e uma estranha caixinha, da qual emanava uma música nostálgica, que lembrava dos tempos de antigamente, quando as pessoas costumavam despender algum tempo de suas vidas nas praças, buscando alguma convivência com outros seres da mesma espécie. Imponente, sobre a fonte, estava pousada uma grande águia, cujo o bico, conforme reza a lenda, aponta para o lugar onde, outrora, havia uma cadeia, e episódios não muito bonitos de se lembrar se passaram por lá. Mas nosso homem empreendedor nada sabia daquelas histórias.

Como as portas da igreja se encontravam abertas, ele resolveu entrar e se deparou com aquela divina imagem estampada na parede. Não era possível escapar daquele Cristo, vivo e enorme, sem os sinais do flagelo e sofrimento com os quais costuma ser retratado. O rapaz sentiu-se tocado diante da vibração celestial que se impunha sobre o interior da igreja e criou a firme convicção de que algo deveria ser feito para que uma obra humana já tão antiga, fosse, enfim, concluída, dando completude e integridade a um portal de união entre o Céu e a Terra.

No dia seguinte, começou seus esforços para a conclusão da Igreja, procurando todas as autoridades responsáveis. Porém, não sabia dos riscos que poderiam ser causados por suas mais nobres intenções. Há ainda, sob a Igreja, aquela serpente gigantesca, que prometeu deitar tudo abaixo quando a construção estivesse terminada? Tendo vindo de outra cidade, o rapaz nada sabia a respeito de tais lendas, e aqueles que desde o nascimento aqui residem, ou dela se esqueceram, ou tornaram-se racionais e práticos demais para darem ouvidos a histórias da carochinha.

Infelizmente, parece que as obras se detiveram apenas sobre a fachada. Logo uma obra dessas que, pela altura a qual se elevaria, nunca iria contar com os mesmos inconvenientes que tiveram, por exemplo, a reforma da rua cinco. Porém, com tantas mudanças ocorrendo numa cidade de fama tão conservadora, em tão curto espaço de tempo, não deveria ser de se admirar que um jovem estudante mais esperançoso se entregasse a devaneios muito mais belos que um estádio de futebol.



Essa crônica foi escrita em uma quarta-feira, 10 de junho de 2009. Infelizmente, os andaimes já foram retirados e, ao que parece, a Igreja não será mesmo concluída.