domingo, julho 12, 2009

“Nós deveríamos ocupar os Ministérios”

Como a mídia brasileira em geral não se interessa muito pelos detalhes da educação, tanto no Brasil quanto no resto do mundo, achei interessante tentar traduzir esse texto para o português. Publicado originalmente no jornal on-line Die Zeit, o texto original, publicado em 16 de junho de 2009 pode ser acessado através do endereço: http://www.zeit.de/online/2009/25/denker-statt-banker

Na foto abaixo, os estudantes mostram um cartaz escrito: Pais ricos para todos.





Universitários bloqueiam Institutos e ruas: começa em Berlim a greve pela educação em todas as universidades

Por Günter Bartsch, Tina Rohowski e Tilmann Warnecke

Às portas do Instituto Otto-Suhr (OSI) da Universidade Livre em Dahlem, correntes, mesas e cadeiras empilhadas impediam a entrada. “A dialética de Adorno não suporta essa correria” dizia uma faixa, pendurada do lado de fora do prédio do Instituto. “Hoje, sem força e poder” dizia outra. Mais de 150 universitários e funcionários protestaram e discutiram ontem por volta do meio dia em frente ao Instituto. O OSI está bloqueado – os estudantes se manifestam contra o que consideram condições miseráveis no ensino superior.

Na última segunda-feira [15 de junho] em todas as universidades de Berlim houve protestos para a abertura nacional da “Greve pela educação 2009”. Na Universidade Tecnológica, os universitários ocuparam o prédio da Arquitetura e, após uma assembleia geral marcharam para o Tauentzien, onde várias centenas foram barrados pela polícia. A manifestação se formou novamente na Straße des 17. Juni e chegou, no início da noite a Unter den Linden. Os cientistas sociais da Universidade Humbolt (HU) decidiram, ao meio dia, interromper suas atividades de ensino normais e retirar seus móveis para o meio da Universitätstraße. Era possível ler em cartazes: “A elite já era merda quando criança” ou “180 Milhões de Euros são o mínimo” - uma alusão às discussões sobre o ensino superior, nas quais as universidades reivindicavam essa soma adicional.

Ontem, universitários de todo país protestaram em 60 cidades. Em Hamburgo, eles bloquearam ruas; em Munique, acamparam em barracas em frente à Universidade Ludwig-Maximilian. Durante toda a semana, universitários e estudantes quiseram protestar no contexto da “Greve pela educação 2009”. O porta-voz dos estudantes da Universidade Humbolt, Tobias Roßmann, citou como principal exigência a reforma do sistema de bacharelado e mestrado. As cargas de trabalho seriam muito altas; os cursos superiores seriam muito autoritários e fechados; e o sistema de ensino na Alemanha, no todo, socialmente seletivo.

Quem quisesse entrar, ontem, no prédio da Arquitetura da Universidade Tecnológica deveria apresentar a identificação de estudante ou funcionário. Os postos de greve deixaram passar apenas cientistas – e estudantes deveriam fazer testes ou devolver livros. “Os funcionários aceitam nosso protesto, mas não o apoiam. Esse é um problema.” - diz o ativista Joshua (28). Em todas as entradas houveram violentas discussões entre os manifestantes e outros universitários, porém os postos de greve permaneceram firmes.

Na assembleia geral dos estudantes na Audimax também foi contestado o quão razoável são os bloqueios aos prédios da universidade. Entretanto, as cerca de 1200 pessoas de outras cidades, que superlotaram o salão, aclamaram. Porém, quem recebeu a maioria dos aplausos foi uma estudante que disse: “Nós precisamos ir para lá, onde a política é feita – nós deveríamos ocupar os ministérios, ir à frente do Reichstag [Parlamento] e da Rotes Rathaus [Prefeitura Vermelha – nome dado à prefeitura de Berlim]”. Extraordinárias são as referências da Audimax à crise financeira. Na parede do auditório estava pendurado um cartaz com a inscrição: “Bacharel e banqueiro em vez de poeta e pensador”.

A algumas centenas de metros do OSI, etnólogos da FU acamparam e queriam permanecer por toda a noite. “Nós queremos discutir com os professores essa semana” - eles disseram. As frequentes trocas de pessoal impediriam uma boa orientação, a eles também faria falta um Café de Estudantes. Além disso, muitos docentes também sofreriam com a escassez financeira: cargos mal pagos de professor preocupam muitos cientistas da nova geração com más condições de vida. Contudo, muitos estudantes esfriaram o protesto: um punhado dos grevistas da OSI partiu em direção ao metrô da Thielplatz para tomar o caminho de casa. No “centro da greve” também há pouco ainda a ser notado. Uma sala de aula está ocupada – à parte disso corre tudo normalmente.

No pátio interno da HU, durante a manhã, universitários penduraram suas reivindicações em um “Muro das Lamentações” simbólico. “Mais livros para as bibliotecas” - estava escrito em um papelzinho; “Presença deve ser facultativa”, “Docentes engajados” ou “Antes era tudo melhor”. De uma caixa de som em um balcão de informações soava uma música alta: “Bom dia, esta é a revolução” cantava a banda Wir sind Helden [Nós somos Heróis] – um clássico, que já na grande greve pela educação de 2003 valia como um hino não oficial. Todavia, a atmosfera de protesto se mantinha dentro dos limites do pátio interno da HU. Apenas poucos estudantes são vistos. Durante a tarde, quando os protestantes soltaram balões no ar com suas reivindicações, a polícia recolheu informações dos estudantes e os dados pessoais de alguns dos participantes.

A direção da universidade, por enquanto, reage tranquilamente à ocupação. “Nós não vamos desocupar” - diz uma porta-voz da Universidade Humbolt, onde universitários qualificam o quarto andar do prédio na Hegelplatz como um “Espaço livre para discussão crítica sobre educação”. E todos os presidentes recomendam dispensar os alunos e funcionários para a manifestação de quarta-feira em frente à Rotes Rathaus.

Para quinta-feira, os ativistas chamam para uma “Ação assalto a banco”. Assim, os universitários querem ocupar a filial do Hypo Real Estate Bank no Charlottenburg, em Berlin. Esta seria uma “ação simbólica, da qual todos os cidadãos deveriam participar” - diz Martin Schmalzbauer do Bündnis [Partido Verde alemão], “Nós não pagaremos por sua crise” e, resignado, “Nós precisamos de mais agitação social na Alemanha”. Os pacotes bilionários para os bancos tinham mostrado “que lá tinha dinheiro suficiente para todos”. Um pacote de salvação para a educação custaria apenas uma fração do dinheiro que foi dado para os bancos.

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