quinta-feira, fevereiro 25, 2010

Politwittiticando


Quantos caracteres são necessários para se expressar ideias boas e relevantes? Certamente mais de 140!

Uma pequena homenagem a um dos espaços mais mal utilizados da internet.


Esse é outro texto da coluna “ideias menos modestas”, que pretende ser uma área de polêmicas sobre o uso da linguagem em nosso cotidiano. Alvos principais: mídia, publicidade, discurso escolar, auto-ajuda, motivação empresarial e qualquer outra forma de manifestação que se configure como um bloco fechado de ideias.

domingo, fevereiro 21, 2010

Aventuras na floresta


Hoje eu reencontrei esse texto, que já nem lembrava que tinha escrito, e, como achei bonitinho, resolvi postar. É uma historinha sem pretensões, apenas para divertir... ou não. Esse aí do lado é o Totoro, personagem de um desenho japonês.

Depois de assistir mais uma vez ao desenho do Totoro, toquei meu violão e invoquei o Juka. Contei pra ele a história e tivemos a ideia de ir procurar o Totoro.

Chegando na floresta, o Juka, que também é dado a elocubrações filológicas, pensou: "Se o Chihiro é A Chihiro, então esse tal Totoro também deve ser menina!"

Procuramos e procuramos, até tocamos a musiquinha, eu em meu violão e o Juka no pífaro. Mas não apareceu nada, apenas um saci que disse que estávamos tocando horrivelmente e veio pedir cachaça; como não tinhamos, ele foi embora.

Uns dez minutos depois fomos embora também. Porém, no curto espaço que deveríamos percorrer pela floresta, houveram inusitadas aventuras. Sem qualquer explicação, todas as cordas do meu violão arrebentaram e me causaram alguns arranhões na mão. O Juka, coitado, assustou-se, tropeçou e caiu sentado em cima do pífaro, quebrando-o ao meio.

Logo imaginamos que isso só poderia ser coisa do saci e fugimos logo dali.

Assim acabaram nossas aventuras na floresta.



MORAIS DA HISTÓRIA:
Nunca procure Totoros em terra de saci.

Jukas não atraem Totoros.

Se for para a floresta, leve cachaça.

Jamais desagrade um saci.

Se você vir um juka e um saci e estiver a procura de um totoro, não diga que as cordas do seu violão
arrebentaram espontaneamente.

Criaturas do folclore japonês não vieram com a migração.

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

Essa tal liberdade... - desdobramentos da mídia e do jornal

O que é que eu vou fazer com essa tal liberdade
Se estou na solidão pensando em você
Eu nunca imaginei sentir tanta saudade
Meu coração não sabe como te esquecer


Eu andei errado, eu pisei na bola
Troquei quem mais amava por uma ilusão
Mas a gente aprende, a vida é uma escola
Não é assim que acaba uma grande paixão

(Só pra contrariar)

Já digo de antemão que estou bem ciente do quanto esse artigo possa ser desmerecido, seja pela minha pouca idade e experiência ou mesmo pela escolha dos versos introdutórios. Porém, às vezes fico impressionado com a capacidade de nossa cabeça em organizar ideias, opiniões e objetos de modo que surja um resultado quase poético.

Desde que eu comecei a tomar consciência de como se editam jornais e transmitem notícias, seja por meio impresso ou pela televisão, tenho sido incomodado pela minha própria opinião negativa a respeito da mídia. Para começar, perturba-me a falta de prioridade dos noticiários. Em todos há um espaço diário dedicado ao esporte – leia-se futebol; em nenhum há um espaço diário dedicado à educação, cultura, novas ideias etc. Em geral, transita-se pelos assuntos policiais, alguns temas políticos (supomos que muita coisa ainda fique por baixo dos panos), catástrofes provocadas pela natureza ou pelo homem e o tal do futebol. Algumas emissoras passam de um assunto para o outro na maior velocidade possível, para que o espectador não tenha tempo de refletir sobre o que acabou de ver e ouvir; outras, aquelas que produzem um “jornalismo crítico”, limitam-se a comentários do tipo “Isso é uma vergonha!” ou jogam logo um respeitável senhor de cabelos brancos que falará indignado contra todas as falcatruas do país, dando “voz” aos sentimentos de toda a nação, em outras palavras reafirmando o senso comum. Estabelecido o ritual, ele é repetido dias e dias a fio, como se fosse uma missa, variando apenas o conteúdo da homilia.

Esses são exemplos apenas dos jornais televisivos, mais acessíveis à população.

Tomado por essa opinião tão negativa, foi quase inevitável que me surgisse a ideia de fazer algo a respeito. Mas, é claro que isso não é tarefa fácil, pois nossa liberdade não inclui um acesso ao discurso de fato. Então, diante da indignação de mãos atadas, é óbvio que a pequenez do espírito humano nos conduz à maldizer aqueles que poderiam fazer algo mais interessante e não fazem...

Desviando um pouco o foco, recentemente o governo federal tem sido alvo de algumas polêmicas que giram em torno do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3). Os ataques vêm de todo o lado e de toda a forma, que muitas vezes impressionam pelo cinismo e até por certa má vontade. Um exemplo é José Casado, que, em texto publicado no site do jornal O Globo, diz que o texto é árido e extremamente tortuoso – algo que tira a vontade de qualquer ser humano de se informar sobre o assunto. Em outros casos, dá-se logo um grito exaltado: “O Governo quer voltar com a censura!” Paulo Renato em seu blog já falava de uma “escalada do autoritarismo”, que colocaria em risco a democracia representativa em favor de uma “democracia direta”, modelo que, segundo ele, teria sido usado para legitimar a Revolução Cubana. Isso para não falar de uma já possível rebelião militar que derrubaria o governo, escândalos com a igreja católica etc.

Longe de ter censura, falou-se o que se quis sobre o tal programa, mas muito pouco se informou sobre ele. Faltava mesmo um pouco de didatismo de boa vontade explicando o que quer dizer cada coisinha ali escrita!

Contudo, na contra-mão do conhecimento e da sociedade civilizada e democrática (seja lá o que isso quer dizer hoje em dia...), transforma-se tudo em obscurantismo. Há o medo do vermelho, do homem barbudo e da ditadura, que foi de direita!

Mas, o que fazer com o desejo de voltar a tempos românticos, quando tínhamos um inimigo bem definido e podíamos gritar entusiasmados pelas Diretas! A Folha de S. Paulo, em 17 de fevereiro de 2009, até a chamou de “ditabranda”!

O que se percebe é que o dom da tão querida e comemorada liberdade foi assumido por pessoas um tanto imaturas, que, depois de tanto lutar, disseram: “E o que a gente faz agora?” “Ah! Vamo falá de futebol!”

Chegando ao nosso objeto, a canção do Só Pra Contrariar, nesse contexto específico, não só aparece como bastante adequada como recebe ainda um tempero especial do nome do grupo!

O assunto iria longe. Por sorte, acho que não fui o primeiro a notar isso.


Quem quiser olhar o PNDH-3, clique aqui e se surpreenda com uma quantidade menor de escândalos e algumas medidas que parecem bastante necessárias.


Esse é outro texto da coluna “ideias menos modestas”, que pretende ser uma área de polêmicas sobre o uso da linguagem em nosso cotidiano. Alvos principais: mídia, publicidade, discurso escolar, auto-ajuda, motivação empresarial e qualquer outra forma de manifestação que se configure como um bloco fechado de ideias.

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

Tzvetan Todorov - "Literatura não é Teoria, é Paixão"


Os livros acumulam a sabedoria que os povos de toda a Terra adquiriram ao longo dos séculos. É improvável que a minha vida individual, em tão poucos anos, possa ter tanta riqueza quanto a soma de vidas representada pelos livros. Não se trata de substituir a experiência pela literatura, mas multiplicar uma pela outra. Não lemos para nos tornar especialistas em teoria literária, mas para aprender mais sobre a existência humana. Quando lemos, nos tornamos antes de qualquer coisa especialistas em vida. Adquirimos uma riqueza que não está apenas no acesso às idéias, mas também no conhecimento do ser humano em toda a sua diversidade.


Esse é um trecho de uma entrevista com o já quase lendário Tzvetan Todorov - dica da @biislopes, publicada no site da revista Bravo!

Para quem se interessa por leitura, literatura e educação, vale a pena conferir:

terça-feira, fevereiro 02, 2010

Inclusão às avessas

Esse é o texto de estreia da coluna “ideias menos modestas”, que pretende ser uma área de polêmicas sobre o uso da linguagem em nosso cotidiano. Alvos principais: mídia, publicidade, discurso escolar, auto-ajuda, motivação empresarial e qualquer outra forma de manifestação que se configure como um bloco fechado de ideias.


Uma das palavras correntes na mídia nos últimos anos é inclusão. Frequentemente puxado, esticado até quase arrebentar, o sentido que se apreende dessa palavrinha mágica nem sempre é claro. Entretanto, não se deve pensar que essa dilatação e subversão de sentido seja uma exclusividade de “inclusão”. Pelo contrário, é só pensarmos em “democracia”, “cidadania”, “liberdade” e possivelmente mais uma dezena de outras.

Mas alguém com voz exaltada e surpresa irá perguntar: “Mas o que não está claro?” Pois é, o que parece óbvio, mas não é, é quem deve ser incluído.

Talvez seja muita inocência de minha parte acreditar que, quando se fala em inclusão, o alvo da proposta seja primariamente as pessoas. Em algum momento ou em algumas áreas bem delimitadas isso pode até ser verdade. Por exemplo, alguém sem emprego que é recrutado por uma grande companhia para realizar qualquer tipo de serviço que ninguém mais realizaria, por um salário mais miserável e sem perspectivas de crescimento. Essa pessoa foi “incluída” no mundo do trabalho, não há dúvida, mas é lógico que para falar de dignidade já temos que dar um passo muito grande.

Mas o que me interessa aqui é algo um pouco mais abstrato: inclusão cultural.

Em geral, o movimento de inclusão cultural que se pode observar consiste em trazer a cultura de periferia para o centro, incorporando o funk, alguma coisa (mas não tudo) do RAP, o grafite e o break no cotidiano das pessoas de classe média ou alta. Assim, todo mundo tem uma experiência antropológica com a cultura de periferia e pode até fingir, sob os auspícios do politicamente correto, que aceita ou que acha bonito, colocando os artistas mais rebolantes na TV ou promovendo bailes funk apenas para convidados muito importantes.

Enquanto isso, as pessoas da periferia continuam na periferia.

Outra forma de “inclusão” acontece no discurso escolar, mais precisamente nas aulas de português. Uma das máximas da pedagogia dos últimos anos é “respeite a identidade do aluno”, ou seja, o seu modo de fala, seus gostos, sua postura etc. Enfim, o professor deve adotar uma atitude que não vise mudar o aluno, ensine uma coisinha aqui e outra ali mas não o faça se sentir tão bem que venha almejar algo como ascensão social por meio da educação, por exemplo.
Dessa forma, o que à primeira vista parece respeito a outra cultura e outro modo de vida acaba se tornando uma camisa de força, que impede o contato das pessoas mergulhadas nesse meio social com a cultura dominante. Todos sabemos que não é chamando os outros de “mano” ou “sangue bom” que se consegue um bom emprego, ou mesmo votos. Não adianta, portanto, abraçar a cultura da periferia e impedir os “periféricos” de chegar aos centros da cultura compartilhada por uma elite intelectual, a saber, museus, bibliotecas, pinacotecas, teatros, cinemas, universidades, salas de concerto etc.

A “inclusão” torna-se, então, uma via de mão única, na qual só trafega aquilo que é passível de ser tornar mercadoria, especialmente a música e a moda; não as pessoas.

Mas, posso estar enganado. “Inclusão” vem do latim inclusĭo, que significa “encerramento, prisão”.