domingo, outubro 11, 2009

Onde estão nossos heróis?

A todos que se sentem órfãos de heróis

Em uma aula de alemão deveríamos escrever uma redação sobre alguma personalidade brasileira importante. Dentre todas as ilustres figuras que surgiram das redações dos alunos, uma foi bastante destacada: Elis Regina. Até a professora de aparência severa se comoveu e explicou o que a Elis representou para sua geração.

Em plena ditadura, ela dava voz aos anseios dos jovens e, talvez, até mesmo de pessoas mais velhas. Todos se preocupavam com ela, se, cedo ou tarde, os militares não iriam prendê-la, fazê-la sumir ou algo assim. Sem contar o seu talento como cantora e suas interpretações quase teatrais que faziam com que Elis conquistasse o seu público.

Devemos lembrar ainda da personalidade bastante generosa da cantora, que emprestou sua voz a canções de outros compositores, como Tom Jobim, Belchior, Adoniran Barbosa, entre outros, criando, assim, versões inesquecíveis de músicas como “Águas de Março”, “Como Nossos Pais”, “Tiro ao Álvaro”, “O Bêbado e a Equilibrista” e, provavelmente ainda muitas outras.

Mas, infelizmente, não vivi o tempo da Elis. Meu herói foi outro...

Hoje faz treze anos que Renato Russo morreu. Na época eu só tinha onze anos e confesso que mal sabia quem ele era. Mas fui conhecendo-o com o tempo, principalmente através de suas canções. Também ouvia entrevistas e assistia a vídeos, e, com o tempo, talvez eu tenha incorporado muitas coisas das músicas da Legião Urbana em mim – é assim que fazemos diante dos nossos heróis –, embora algumas lições sejam difíceis de entender, como o fato de que só há perfeição em nossos sonhos, que para dominar o mundo basta aprender a amar e que liberdade é pensar por si mesmo. É, talvez isso soe muito piegas ou clichê, mas, de fato, suas ideias e sua música me agradaram, eu escolhi ouvi-las por um longo tempo e as ouço até hoje. Nem o Renato Russo, nem a Legião me foram impostos, descobri um pouco por conta própria ou com a ajuda de meu irmão, amigos e da precária Internet discada que existia lá pelos anos de 1996 à 1998.

Em meio a sentimentalismos e comoções, é estranho notar que estes nossos heróis, como todos os seres humanos, um dia se cansaram. Quiseram deixar de ser heróis. Renato brincava bastante com isso, de um jeito às vezes provocador que muitas vezes beirava a insensatez, e em uma de suas entrevistas disse que não existiam heróis e que essa ideia era muito perigosa, principalmente pelo fato de que há sempre a possibilidade de se descobrir que seu ídolo tem pés de barro.

Hoje em dia os heróis são feitos de um material barato, apenas para serem vendidos e estragados. Confesso que tenho muito pouco apreço pelos tempos modernos, especialmente pelo que circula no meio musical de mais fácil acesso. Não que não existam pessoas boas; elas estão bem escondidas, são perigosas...

Sobre uma época em que não vivi, só posso fazer conjecturas, mas me parece que Elis Regina foi um raio de sol que despontava em meio as nuvens de chuva e tempestade. Renato Russo talvez seja como o por-do-sol do último dia de inverno, uma pausa meditativa em terra aparentemente estéril, mas pronta para renascer.


URBANA LEGIO OMNIA VINCIT
Ouçamos no volume máximo

quarta-feira, outubro 07, 2009

A menina que roubava livros


Ao pegarmos o livro na mão esperamos por uma história bastante interessante. Afinal, que tipo de história poderíamos ouvir da própria Morte? Sem contar o fato de que qualquer bibliófilo que tem em mãos um volume de mais de quatrocentas páginas já tem uma pré-disposição natural à simpatizar com a pequena ladra.

O cenário é bastante interessante: durante o regime nazista e a Segunda Guerra Mundial. Uma época em que os livros, talvez mais do que lidos, também eram queimados em grandes fogueiras em praças públicas. Um saber perigoso ou uma simples história cujo protagonista não é um autêntico alemão, representante do povo e da raça superior, já são motivos suficientes para que o material que poderia aquecer o espírito vire um mero combustível para gerar uma luz de ferir os olhos e aquecer os corpos.

Entretanto, parece que Markus Zusak teve bem pouco tempo para escrever sua longa história, deixando muitas pontas soltas ou exagerando no pieguismo.

Vejamos a nossa ilustre narradora: para tentar fugir dos clichês mais comuns sobre a Morte, Zusak retirou-lhe a foice e o rosto esquelético; modificou-lhe um pouco o trabalho, tornando-a mais uma carregadora de almas do que a morte em si; deu-lhe um coração capaz de, por quaisquer motivos que não são explicados, afeiçoar-se por determinados seres humanos. Mas a Morte manteve seu caráter quase sobrenatural de estar em todos os lugares possíveis ao mesmo tempo, na hora exata em que deve recolher uma pobre alma e levá-la sabe-se lá para onde. Está aí o primeiro defeito da obra, em minha modesta opinião. Para onde vão essas almas? Para o céu? Ou para o inferno? Irão para uma sala de espera gigantesca onde deverão esperar por toda a eternidade até que a burocracia inerente a justiça divina decida julgar o caso particular de cada indivíduo para, enfim, decidir para onde enviá-lo? Ou será que a Morte apenas carrega as almas para ir dar uma voltinha de barco com o tio Caronte?

Em meio a esse trabalho sem finalidade, é estranho ver a Morte reclamar das milhares de almas que deve carregar durante a guerra ou o massacre dos judeus. Além disso, se a narradora pode estar em tantos lugares e acompanha a morte de cada um, porque nunca sabemos o destino da mãe da roubadora de livros?

Pois bem. Ignorando a inconsistência da narradora, algo que já irá nos perturbar durante toda a leitura, somos colocados frente a pequena Liesel Meminger. Enviada a uma família adotiva, provavelmente porque a mãe fugia de perseguições políticas, a menina deve logo se acostumar com a nova família e lidar com a perda do irmão mais novo. Sua vida na rua Himmel (que quer dizer céu em alemão) é muito dura, pois a guerra impede que o pai e a mãe consigam dinheiro suficiente até mesmo para comer. Em meio a situação difícil a família ainda resolve abrigar o judeu Max Vandenburg em sua casa, mesmo com o risco de serem condenados por traição à ditadura hitlerista.

Nota-se que Zusak tentou por todos os meios fugir de clichês, lançando o olhar sobre uma família que conseguiu escapar do discurso convincente do Führer, aparentemente, pelo simples fato de terem um bom coração...

Apesar dos defeitos como obra literária, não tenho muita dúvida, de que A menina que roubava livros daria um ótimo filme. Zusak, com certeza, sabe construir imagens tocantes... só não sabe concatená-las de modo que consigam um bom efeito sobre o leitor. Mas essas imagens, se vistas rapidamente, sem muito tempo para pensar – bem à maneira dos filmes de Hollywood – certamente funcionarão bem.

Agora, aguardemos o filme. Por enquanto acho que ninguém ainda se propôs a filmar a obra, o que será um desperdício.

Alguns romancistas dão ótimos roteiristas.

domingo, outubro 04, 2009

Uma piada infame

Sinceramente, não resisti a fazer isso. Mas, eis um poste novo no blog:


Pelo menos é bonito. Fica na Praça Pedro de Toledo, mas foi rejeitado para o Google Earth.

quinta-feira, outubro 01, 2009

Site do Movimento Violão

No dia 4 de junho, coloquei aqui um post sobre o Movimento Violão. Agora o projeto conta também com um site muito bonito e que vale a pena visitar. O endereço é:

http://www.movimentoviolao.com.br/