sábado, junho 13, 2009

The Lord of the Rings – O Senhor dos Anéis: uma volta a tempos mais simples

Por algum tempo hesitei em falar desse livro. Ele é, na verdade, o meu trabalho de mestrado, e achei que seria muito enfadonho tentar escrever alguma coisa a respeito que não soasse “acadêmico” ou super-analítico etc. Mas, muito do que eu gostaria de falar a respeito da minha obra literária preferida tem a ver com outro texto que já postei nesse blog: "Como fazer arte no século XXI?" Portanto, a pergunta aqui seria: O Senhor dos Anéis – do autor inglês J. R. R. Tolkien (1892-1973), publicado entre os anos de 1954e 1955 – pode ser considerado como uma boa obra de seu tempo?

Sem hesitar, eu diria que sim, concordando com o poeta W. H. Auden, que diz:

“if one is to take a tale of this kind seriously, one must feel that, however superficially unlike the world we live in its characters and events may be, it nevertheless holds up the mirror to the only nature we know, our own;”

[se alguém considerar um conto desse tipo seriamente, deverá sentir que, embora superficialmente diferente do mundo que nós vivemos e como podem ser seus personagens e eventos, ele segura um espelho para a única natureza que conhecemos, a nossa própria]

Mais uma vez, sim, porque para falar de seu próprio tempo, talvez não seja necessário retratar cada elemento, descrevendo minuciosamente até mesmo as mais banais das atividades cotidianas, como tomar um copo de água ou preparar uma refeição.

Tolkien, ao contrário, apela para um sentimento mais profundo, levando o seu leitor a um tempo primordial, no qual, de alguma forma, o homem se sentisse, talvez, menos dividido, mais completo. Para entender esse sentimento, seria útil nos voltarmos para o seu bastante citado ensaio “On Fairy-Stories” (Traduzido para o português e publicado pela editora Conrad como Sobre histórias de fadas). Nesse ensaio, o autor fala sobre as funções das histórias de fadas, vendo nelas uma forma de o homem se reaproximar da natureza e, talvez, lembrar “do tempo em que os bichos falavam”, ou se podia ouvir os sussurros das árvores ao passar por um bosque. Um tempo em que o mundo parecia mais vivo e mais significativo, quando, em nossa inocência, podíamos acreditar que o ser humano tinha alma e sentimentos abstratos, que não eram apenas o resultado de reações químicas de nosso organismo.

Contudo, não há em O Senhor dos Anéis uma insistência no relato do maravilhoso por si só. Embora haja magos, nenhum deles sai por aí lançando bolas de fogo, evocando tempestades instantâneas, terremotos ou coisas do tipo. Pode-se dizer que, em contraste com outras histórias geralmente colocadas sob mesmo gênero, Tolkien não faz do maravilhoso a sua atração principal, antes encara-o com certa naturalidade, e somos nós leitores que, após termos passado pela Terra-média, deparamo-nos com um mundo mais vivo, mais belo, mais dotado de sentido.

Creio que tenha sido esse o motivo do tamanho sucesso de sua obra. Pois, mais do que oferecer um retrato de sua época, o autor foi ao encontro dos maiores anseios das pessoas. Não é porque ele não se entusiasmou com os novos mecanismos inventados no início do século XX e definitivamente incorporados à vida cotidiana, que Tolkien possa ser considerado necessariamente um autor reacionário ou escapista. O encanto com as máquinas, com a ciência, com a velocidade, a morte de Deus, e tudo mais, não poderia também ser uma forma de escapismo diante da verdadeira condição humana de ser crédulo, frágil e, ainda, em grande parte ignorante?

Voltando ao livro propriamente dito, o seu estrondoso sucesso é, também, um tanto intrigante, pois O Senhor dos Anéis não é uma obra fácil. Aquele que se propõe a lê-la deverá percorrer mais de mil páginas de uma narrativa que transcorre em um ritmo bastante lento, repleta de descrições, grandes diálogos, paradas, indecisões; tudo isso entremeado com elementos da cultura da Terra-média, como canções e histórias, as quais embora não se relacionam diretamente ao núcleo da narrativa, mas conferem ao mundo imaginário de Tolkien uma grande profundidade. Ao contrário do que se pode pensar apenas assistindo aos filmes, O Senhor dos Anéis não é só o relato de uma grande aventura, mas, se concordarmos com W. H. Auden, pode ser também uma grande peregrinação rumo a um descobrimento de si.

Entre os vários livros que eu li sobre O Senhor dos Anéis, em um deles, o autor fala um pouco sobre as diversas experiências de alguns leitores com a obra. Enquanto alguns não passavam das primeiras páginas, outros a liam e reliam várias e várias vezes, até perderem a conta de quantas vezes já tinham lido a história. Outro caso, bastante peculiar, é sobre um homem que se propõe todos os anos a reler O Senhor dos Anéis, considerando a sua leitura, de certa forma, revigorante. Mas não quero empurrar Tolkien para a prateleira dos livros de auto-ajuda. Não se trata disso. É apenas um convite para quem ainda não conhece, ou só conhece a obra através dos filmes, para que reserve um pouco do seu tempo, dê uma pausa na correria e procure, ao final da leitura, levantar os olhos das páginas do livro e se deparar com um mundo novo.

3 comentários:

Michelson disse...

Boa, Boa kara...
tu escreve muito bem!!
e é isso q eu penso sobre os livros do Tolkien!!!
Trata-se de um novo mundo e q atravez dele enxergamos melhor o nosso mundo real!!

rpz...tenho um blog tb onde escrevo varias coisas...v lá!!
www.deborestia.blogspot.com

Vinício dos Santos disse...

eu tenho o Sociedade do Anel, e confesso que eu nunca li ele por saber justamente que preciso de tempo e dedicação pra isso. Mas do pouco q eu lembro de ler (há tantos anos atrás), me parece mesmo q vc tem razão sobre essa coisa do retorno a um tempo primordial. Acho que as descrições todas do livro são, no fundo, uma grande celebraçao.

Quem sabe as férias de agora me deixam ler o livro enfim.

Elinei disse...

Quando vc citou que Tolkien não deve ir para as prateleiras de livros de auto ajuda eu dei risada sózinha, vc sabe porque, né? Quanto vc já insistiu prá que eu lesse "O Senhor dos Anéis", e acho que nunca me empolguei pois concordo com o colega que postou o depoimento acima: Exige muita atenção e dedicação prá ler este tipo de livro e ainda não me senti nesse estado. Mas, prometo à você que ainda lerei este e outros mais que vc me indicar, tenho certeza de que me fará muito bem saber um pouco mais do que se trata o seu trabalho em desenvolvimento!!! Continue em frente!!! Desistir, jamais!!!
Bjs!!!