quinta-feira, junho 25, 2009

Aonde foi o QI do Roger?



Qualquer pessoa que se esteja ligada ao universo da música pop ou, para quem prefere outro rótulo, à cena do rock nacional, já deve ter ouvido falar do lendário QI de Roger Rocha Moreira, mais conhecido como “o Roger do Ultraje”. A cada entrevista ou aparição que ele faça é comum que as pessoas perguntem “Como é ter um super QI?”, ou coisas do tipo. Certa vez, quando era entrevistado pela Luisa, o músico até brincou, dizendo que parecia até que ter um QI alto parecia uma espécie de super poder, mas não era nada disso. Diante dessa situação, uma pergunta jamais pronunciada reverbera: O que Roger faz com seu QI?

Essa é uma pergunta especialmente intrigante para aqueles que, por quaisquer motivos que sejam, não gostam do Ultraje a Rigor. Afinal, era de se esperar que alguém tão inteligente compusesse, no mínimo, sinfonias, concertos, óperas e não cantasse sobre uma galinha chamada Marylou!

Vamos, então, tentar investigar o polêmico caso Roger:

Segundo a mãe de todo conhecimento moderno, leia-se Wikipédia, Roger Rocha Moreira nasceu em São Paulo no dia 12 de setembro de 1956. Creio que seria deveras tendencioso de minha parte acreditar que a partir da própria data de nascimento, já se poderia adivinhar que certa configuração celeste ou intervenção divina contribuiriam para a formação do futuro gênio, pois outras personagens ilustres também compartilham dessa data de nascimento, por exemplo: Álvares de Azevedo, o ex-presidente Juscelino Kubitschek, o cantor Geraldo Vandré (autor de Para não dizer que não falei de flores) e, humildemente, o autor desse blog. Se imaginarmos que uma semelhante configuração celeste se estende para os dias 11 e 13 de setembro, encontramos a data de nascimento do escritor inglês D. H. Lawrence e do filósofo alemão Theodor Adorno no dia 11; e do ator e apresentador brasileiro Antônio Abujamra e do genial compositor Arnold Schönberg no dia 13.

Contudo, há aqueles que não acreditam em astrologia e pensam que tudo isso é, de fato, uma grande bobagem. Para estes, devemos encontrar respostas mais convincentes sobre o direcionamento da criatividade e inteligência do cantor.

Roger estudou até o terceiro ano de Arquitetura na Universidade Mackenzie, formou-se em Inglês pela Universidade de Michigan, nos EUA, foi professor de inglês, passou por diversos conservatórios e toca guitarra e flauta. Além de suas habilidades de multi-instrumentista, devemos considerar, também, sua grande habilidade linguística, para não dizer poética, na criação de trocadilhos, especialmente, aqueles de cunho sexual.

Entretanto, talvez o seu feito mais genial tenha sido explorar temas não tão comuns na poesia da música brasileira, ou ainda, mesmo que a raridade desse tema não seja verdadeira, é admirável sua habilidade em compor verdadeiros hinos para as situações comuns. Vamos tentar ilustrar a situação com alguns exemplos:

Graças à famosíssima Rede Globo, o brasileiro adquiriu o hábito de assistir a novelas. Graças à pouca criatividade de alguns roteiristas vira e mexe temos uma novela que se passa na praia. E qual a trilha sonora perfeita para tal? “Agora, nós vamos invadir sua praia!”

Outra ocasião: uma reportagem no Fantástico sobre ciúme e logo vem um “mas eu me mordo de ciúmes!” Nesse caso, Roger teria ainda uma concorrência, se não me engano, com a música da banda Raça Negra – cujo destino me é completamente desconhecido – e seu refrão que tinha muito para ficar, mas felizmente só é possível ser encontrado nas profundezas da memória: “Mas é ciúme, ciúme de você, ciúme de você, ciúme de vocêêêê!”

Essa outra musica seria bastante proveitosa em outros contextos para falar das misérias de nossa nação, de nossa imagem para o exterior, do país dos banguelas etc. No entanto, ela também se encaixa na voz do baluarte da gramática normativa que nos ensina que “A gente somos inútil” é errado, e o correto seria ou “Nós somos inúteis” ou “A gente é inútil”, visto que a expressão “a gente”, embora introduza uma ideia de coletividade, de pluralidade, de multiplicidade, exige que o verbo seja conjugado na terceira pessoa do singular.

Outra coisa, menos comum na TV, mas que parece ter sido incorporado à linguagem cotidiana é a expressão “Pelado, pelado, nu com a mão no bolso” ou qualquer variante que dela possa surgir.

Isso, só para não falar de “SEXO”!

E, por fim, temos que dar o braço a torcer para o fato de que Roger deu forma a toda a expressividade de um dizer tão corriqueiro, dando voz aos nossos anseios mais íntimos de falar abertamente a todos os políticos, ou mesmo àquelas pessoas próximas tão pouco admiráveis, tudo aquilo que temos vontade:

'Cês me desculpem o palavrão
Eu bem que tentei evitar
Mas não achei outra definição
Que pudesse explicar
Com tanta clareza
Aquilo tudo que agente sente
A terra é uma beleza
O que estraga é essa gente

Filha da puta!

domingo, junho 21, 2009

Quem tem samba com veneno não tem medo de saci

Outro dia, olhando alguns sites pela internet, encontrei, no myspace, dois antigos professores meus. Eu já sabia de suas atividades extra classe, o que fez dessas descobertas não tão surpreendentes como a primeira vista se poderia pensar. Mas algo que certamente me surpreendeu foi a seriedade com a qual os dois lidam com o que à primeira vista poderia ser considerado apenas um hobby. Muito além disso, seu contato com a música gerou frutos bastante interessantes como Cds, trilha sonora para filme, além de um engajamento, cada um ao seu estilo, para manter viva uma cultura comumente soterrada pela grande mídia.

Em 2003, quando eu fazia o meu primeiro ano de cursinho, ainda pensando em prestar música, a notícia de que o professor de matemática havia lançado um CD de samba, intitulado Com todo respeito, causou um certo alvoroço entre os alunos, todos, obviamente, bastante curiosos em relação aos talentos ocultos de nosso mestre dos números. Mas o espanto foi apenas para os mais desavisados, pois, ao que parece, o lançamento desse álbum foi apenas o resultado de um trabalho muito mais antigo, e o professor afirmou que não ia parar de dar aulas para seguir outra carreira.

Lembro-me bem que o Teroca começava a aula sempre com um alegre “Boa noite moçada” e às vezes apresentava o tema da aula, principalmente aqueles mais terríveis, não com menor entusiasmo, acentuando bem cada sílaba da mais assombrosa palavra: “A aula de hoje é sobre lo-ga-rit-mo!” Havia também quem se irritasse quando, ao levar ao professor o mais cabeludo dos problemas, daqueles que a gente fica quatro ou cinco horas tentando resolver e nunca chega à maldita resposta do gabarito, e o Teroca apenas o olhava por alguns segundos, fazia uma cara entre o sério e o bravo, de repente exclamava, com a maior naturalidade: “Ah! É assim!”

É lógico que com o lançamento do disco todos os alunos queriam que o professor “desse uma palhinha”, o que de fato aconteceu. Duas semanas após o lançamento, o aparentemente enciumado professor de português levou um pandeiro pra escola. Então, o matemático não teve escapatória e cantou, junto com toda a classe, o seu samba com veneno.

Mas por que motivo o professor de português poderia estar com ciúmes? Em meio à descoberta dos talentos artísticos do professor de matemática, já era fato bem conhecido que o Fabius tinha, também, sua própria banda, que naquele tempo ainda era a Dione Zica. Começando todas as aulas com o uso da função fática “boa noite”, foi com ele que eu finalmente consegui entender e identificar aquelas orações subordinadas que todo mundo tem medo, quase ninguém aprende direito e muito menos sabe para que serve. Mas aprendi, e, diga-se de passagem, melhor com ele do que na faculdade.

Atualmente, Fabius está em compõe o chamado Trio Tamoyo, um grupo que resgata e inova as tradições da região sudeste, especialmente no estado de São Paulo. Acho isso bastante interessante, especialmente quando comparado às visões de brasilidade veiculadas pelos grandes meios de comunicação. Parece até que para ser brasileiro tem que ser nordestino ou carioca, gostar de samba comer feijoada etc. Como que o brasileiro consegue ser assim para si mesmo, tão clichê? Quanto dessa brasilidade não reside na “caipirada” (no bom sentido) paulista, na moda de viola, nos Rs retroflexos de nossas poRtas, de nosso amoR e de nossa doR?

Com uma formação um tanto incomum de viola de cabaça, baixo acústico e bateria, o Trio Tamoyo, composto, respectivamente, por Fabius, Otávio Gali, e Piza, mistura, em um trabalho bastante interessante, a etnomusica brasileira com rock, procurando sons inusitados, especialmente a partir de sua viola eletrificada.

Para quem não conhece essas duas figuras, acho que vale a pena conferir no myspace:


E também uma entrevista com o Fabius em:

sábado, junho 13, 2009

The Lord of the Rings – O Senhor dos Anéis: uma volta a tempos mais simples

Por algum tempo hesitei em falar desse livro. Ele é, na verdade, o meu trabalho de mestrado, e achei que seria muito enfadonho tentar escrever alguma coisa a respeito que não soasse “acadêmico” ou super-analítico etc. Mas, muito do que eu gostaria de falar a respeito da minha obra literária preferida tem a ver com outro texto que já postei nesse blog: "Como fazer arte no século XXI?" Portanto, a pergunta aqui seria: O Senhor dos Anéis – do autor inglês J. R. R. Tolkien (1892-1973), publicado entre os anos de 1954e 1955 – pode ser considerado como uma boa obra de seu tempo?

Sem hesitar, eu diria que sim, concordando com o poeta W. H. Auden, que diz:

“if one is to take a tale of this kind seriously, one must feel that, however superficially unlike the world we live in its characters and events may be, it nevertheless holds up the mirror to the only nature we know, our own;”

[se alguém considerar um conto desse tipo seriamente, deverá sentir que, embora superficialmente diferente do mundo que nós vivemos e como podem ser seus personagens e eventos, ele segura um espelho para a única natureza que conhecemos, a nossa própria]

Mais uma vez, sim, porque para falar de seu próprio tempo, talvez não seja necessário retratar cada elemento, descrevendo minuciosamente até mesmo as mais banais das atividades cotidianas, como tomar um copo de água ou preparar uma refeição.

Tolkien, ao contrário, apela para um sentimento mais profundo, levando o seu leitor a um tempo primordial, no qual, de alguma forma, o homem se sentisse, talvez, menos dividido, mais completo. Para entender esse sentimento, seria útil nos voltarmos para o seu bastante citado ensaio “On Fairy-Stories” (Traduzido para o português e publicado pela editora Conrad como Sobre histórias de fadas). Nesse ensaio, o autor fala sobre as funções das histórias de fadas, vendo nelas uma forma de o homem se reaproximar da natureza e, talvez, lembrar “do tempo em que os bichos falavam”, ou se podia ouvir os sussurros das árvores ao passar por um bosque. Um tempo em que o mundo parecia mais vivo e mais significativo, quando, em nossa inocência, podíamos acreditar que o ser humano tinha alma e sentimentos abstratos, que não eram apenas o resultado de reações químicas de nosso organismo.

Contudo, não há em O Senhor dos Anéis uma insistência no relato do maravilhoso por si só. Embora haja magos, nenhum deles sai por aí lançando bolas de fogo, evocando tempestades instantâneas, terremotos ou coisas do tipo. Pode-se dizer que, em contraste com outras histórias geralmente colocadas sob mesmo gênero, Tolkien não faz do maravilhoso a sua atração principal, antes encara-o com certa naturalidade, e somos nós leitores que, após termos passado pela Terra-média, deparamo-nos com um mundo mais vivo, mais belo, mais dotado de sentido.

Creio que tenha sido esse o motivo do tamanho sucesso de sua obra. Pois, mais do que oferecer um retrato de sua época, o autor foi ao encontro dos maiores anseios das pessoas. Não é porque ele não se entusiasmou com os novos mecanismos inventados no início do século XX e definitivamente incorporados à vida cotidiana, que Tolkien possa ser considerado necessariamente um autor reacionário ou escapista. O encanto com as máquinas, com a ciência, com a velocidade, a morte de Deus, e tudo mais, não poderia também ser uma forma de escapismo diante da verdadeira condição humana de ser crédulo, frágil e, ainda, em grande parte ignorante?

Voltando ao livro propriamente dito, o seu estrondoso sucesso é, também, um tanto intrigante, pois O Senhor dos Anéis não é uma obra fácil. Aquele que se propõe a lê-la deverá percorrer mais de mil páginas de uma narrativa que transcorre em um ritmo bastante lento, repleta de descrições, grandes diálogos, paradas, indecisões; tudo isso entremeado com elementos da cultura da Terra-média, como canções e histórias, as quais embora não se relacionam diretamente ao núcleo da narrativa, mas conferem ao mundo imaginário de Tolkien uma grande profundidade. Ao contrário do que se pode pensar apenas assistindo aos filmes, O Senhor dos Anéis não é só o relato de uma grande aventura, mas, se concordarmos com W. H. Auden, pode ser também uma grande peregrinação rumo a um descobrimento de si.

Entre os vários livros que eu li sobre O Senhor dos Anéis, em um deles, o autor fala um pouco sobre as diversas experiências de alguns leitores com a obra. Enquanto alguns não passavam das primeiras páginas, outros a liam e reliam várias e várias vezes, até perderem a conta de quantas vezes já tinham lido a história. Outro caso, bastante peculiar, é sobre um homem que se propõe todos os anos a reler O Senhor dos Anéis, considerando a sua leitura, de certa forma, revigorante. Mas não quero empurrar Tolkien para a prateleira dos livros de auto-ajuda. Não se trata disso. É apenas um convite para quem ainda não conhece, ou só conhece a obra através dos filmes, para que reserve um pouco do seu tempo, dê uma pausa na correria e procure, ao final da leitura, levantar os olhos das páginas do livro e se deparar com um mundo novo.

sexta-feira, junho 05, 2009

O ovo de cavalo - um causo alemão

Essa é mais uma tentativa de tradução de uma anedota alemã. Desta vez é um texto de autor desconhecido chamado Das Pferdeei ou O ovo de cavalo.

Das Pferdeei

(Verfasser unbekannt)

Es war einmal ein Bauer, der hieß Hans, der ging in die Stadt zu Markte. Und als er da so herumschlenderte, sah er einen Händler sitzen, der hatte ein paar große Kürbisse zu verkaufen. Da fragte er ihn: "Bruder, was sind das für Dinger, die du da zu Markte gebracht?" - "Pferdeeier" antwortete der andere. "Ei, du liebe Zeit!", sagte Hans, "Pferdeeier? Die sind wohl sehr teuer?" - "Nun, bezahlen lassen sie sich noch", sprach jener, "sieh mal hier das rotbraune, das gibt einen prächtigen Fuchs und kostet nur zehn Taler!" Das dünkte Hans nicht allzu viel für einen schönen Fuchs - und schnell borgte er das Geld und kehrte zu dem Händler zurück.

Nun wollte er aber auch gern wissen, wie das Ei ausgebrütet werde; und der andere sagte ihm, er müsse es selbst ausbrüten. Und es dauere volle vier Wochen, bis ein Fohlen herauskäme! Während dieser Zeit dürfe er ja nicht von dem Ei aufstehen - und wenn er's einmal müsse, so möge er's ja recht warm zudecken. Auch solle er sich lieber die ganze Zeit von seiner Frau füttern lassen, damit er eine recht hitzige Brut habe.

Hans prägte sich alles ganz genau ein und eilte nun mit seinem Pferdeei nach Hause, wo er seiner Frau mit großer Freude erzählte, was für einen schönen Handel er gemacht habe. Er konnte kaum die Zeit erwarten, bis sie ihm das Nest zurechtgemacht hatte. Nachdem sie nun ein Bund Stroh im Stall ausgebreitet und in der Mitte eine Vertiefung für das Ei gemacht hatte, setzte sich Hans darauf - und seine Frau musste ihn füttern und noch einige Bund Stroh um ihn schütten, damit er auch eine hitzige Brut hätte.

Als nun endlich die vierte Woche zu Ende ging, da sprang Hans plötzlich auf und horchte an dem Ei und klopfte daran; aber der Fuchs wollte sich nicht rühren. Da konnte er seine Ungeduld nicht länger zügeln. Er nahm das Ei und ging damit hinters Haus, wo ein großer Stein lag, gegen den war er es. Und da der Kürbis innen schon ganz faul war, flogen die Stücke weit umher.

Und eins davon fiel in ein nahes Gesträuch, hinter dem gerade ein Fuchs lag und schlief. Der sprang auf und lief eilig davon. Da glaubte Hans, es sei sein rotes Fohlen und er rief immerzu: "Hiß, hiß!" Er meinte, wann's müde ist, wird's schon zurückkommen; aber es kam nicht. Hand ging endlich betrübt wieder ins Haus und nahm sich vor, wenn er wieder ein Pferdeei kaufe, hübsch im Stall zu bleiben, damit sein Fehlen nicht entwischen könne.


O Ovo de Cavalo

(Autor desconhecido)

Era uma vez um agricultor chamado Hans, que ia para a cidade, ao mercado. E quando ele passeava por ali, viu um negociante sentado, que tinha algumas grandes abóboras para vender. Então ele perguntou:

- Compadre, que tipo de coisa é essa aí que você trouxe pr'o mercado?

- Ovos de cavalo – respondeu o outro.

- Ai, que tempos! - disse Hans. - Ovos de cavalo? Eles devem ser bem caros?

- Ora, eles ainda pagam a si próprios – falou o outro. - Olhe só esse marrom avermelhado aqui, ele dá um esplendoroso cavalo de pelos marrom avermelhados e custa apenas dez táleres!

Para Hans, isto não pareceu muito por um belo alazão – e rapidamente ele foi tomar emprestado um dinheiro e voltou ao negociante.

Agora, ele queria saber também como o ovo era chocado, e o outro lhe disse que ele mesmo deveria chocar. E isso levaria quatro semanas inteiras até que viesse um potrinho! Durante esse tempo ele não poderia levantar do ovo, e se alguma vez precisasse, deveria deixá-lo bem coberto e aquecido. Ele também deveria, de preferência, deixar-se alimentar por sua mulher por todo o tempo, para que ele chocasse corretamente.

Hans memorizou tudo minuciosamente e correu com seu ovo de cavalo para casa, onde ele contou à esposa com grande alegria que belo negócio tinha feito. Mal podia esperar até que ela tivesse lhe preparado um ninho. Depois que ela espalhou um fardo de palha no estábulo e fez uma cova no meio para o ovo, Hans se sentou sobre ele – e sua esposa deveria alimentá-lo e ainda despejar em volta mais alguns fardos de palha, para que o ovo se aquecesse corretamente.

Quando finalmente a quarta semana chegou ao fim, Hans se levantou imediatamente, escutando o ovo e batendo sobre ele; mas o alazão não queria se mexer. Então ele não conseguiu mais dominar sua impaciência. Pegou o ovo e foi para trás da casa, onde havia uma grande pedra, contra a qual o bateu. E como a abóbora já estava bem podre por dentro, seus pedaços voaram para todo o lado.

E um deles caiu em um arbusto próximo, justamente atrás do qual havia um alazão adormecido. Ele se levantou de um salto e correu rapidamente de lá. Então Hans acreditou que aquela era o seu filhote e gritou sem parar: “Hei! Hei!” E pensou que, quando o cavalinho estivesse cansado, voltaria; mas não voltou. Hans, finalmente, voltou entristecido para casa e propôs-se que, quando ele comprasse um ovo de cavalo de novo, ficaria direitinho no estábulo, para que sua falta não pudesse se repetir.

quinta-feira, junho 04, 2009

Movimento Violão

O projeto intitulado “Movimento Violão” já acontece em Araraquara há cinco anos, e há três foi estendido para as cidades de Ribeirão Preto e São Paulo. Durante esse período, o Movimento se consagrou como o mais importante circuito de concertos do país dedicado a esse instrumento. Idealizado e coordenado pelo violonista araraquarense Paulo Martelli, o projeto traz artistas de alto nível, executando um repertório que vai do erudito ao popular, ocorrendo, geralmente, na última semana de cada mês.

O último concerto acontecido em Araraquara foi no dia 27 de maio e contou com a apresentação do próprio Paulo Martelli. Em seu programa, o músico executou Koyunbaba, do compositor italiano Carlo Domeniconi, peça já tradicional de seu repertório e que mistura influências da música turca; em seguida, executou ao violão barroco (violão de 11 cordas), adaptações de trechos da Suíte n. 2 para violoncelo e a da Sonata n.1 para violino do compositor alemão Johann Sebastian Bach; além do Prelúdio n. 5 do compositor e professor araraquarense Francisco Brasilino.

Infelizmente, como relata o próprio coordenador do projeto, na própria cidade de Araraquara o Movimento Violão ainda não conseguiu conquistar um grande público. Confesso que, embora não possa ir todos os meses aos concertos, jamais deixei a sala de nosso Teatro Municipal decepcionado. Pelo contrário, a cada apresentação me foi possível descobrir um novo encanto sobre este instrumento, hoje em dia, tão comum. É como se a cada interprete diferente que o tomasse, o violão adquirisse uma nova alma, uma nova voz, uma nova expressão...

Aproveitando-me do post anterior, sobre o disco Lute Music for Witches and Alchemists, poderia eu me questionar se aquela fabulosa Atlantis musical da música para alaúde não teria sido transportada para o violão. De fato, pode haver um pouco de verdade nessa questão, mas sem dúvida cada instrumento possui os seu encanto próprio, bem como as possibilidades de execução e de repertório.

De qualquer forma, espero ter despertado algum interesse sobre o Movimento Violão em meus leitores araraquarenses. Por ora, deixo-os com Paulo Martelli e seu violão barroco, executando o último movimento da Sonata n.1 para violino de J. S. Bach.



Vale lembrar que os concertos são gratuitos!