quarta-feira, abril 20, 2011

Solidão

Sentar-se só. Nesse banco, que já foi ocupado por milhares de corpos desconhecidos, que conversavam alegremente, abraçavam-se, beijavam-se, ou apenas viam a vida passar. Devagar, como sempre. O banco que servia para o descanso das pernas ou para acalmar do coração.

Um corpo só. É apenas o que resta. O que resta é a comunhão com as árvores e os pássaros, que olharão e se deixarão tocar sem sentimentos que venham a comprimir o coração.

E tocar a terra, com os pés descalços, na mera busca de um toque que seja vivo, que tenha alma. Um corpo imenso que acolhe e abraça, que dará o último abraço, o beijo amante, a jura de amor eterno e a promessa de não abandono, jamais!

E o vento trás aqui os cheiros de quem já se sentou ao meu lado, que se distinguem entre todos os milhares de cheiros de todos os milhares de corpos que por aqui já passaram. Memória.

E a sombra de uma árvore a se agitar suavemente, ignorando a tristeza e explodindo em cor, em verde, em luz. Ferindo com tanta beleza em uma explosão de flores, que se desprendem com o vento e vem a roçar a pele...

Ignorante, a natureza é bela. Banha-se de sol. Luz que fere os olhos mas não atinge o coração. Derruba a consciência em lágrimas que não se secam, apenas transbordam... transbordam até que transforme a dor em cansaço, o ódio em cansaço, a esperança em cansaço, o medo em cansaço, o amor, a alegria, a vida, os sonhos... em cansaço.

Só. Só nos sobra o cansaço. A falta de vontade de sonhar, de crescer, de viver, de ser.


Até que surge novamente, aquele perfume estranho e familiar. A beleza estrangeira que nunca partiu do coração exilado. Daquele que busca sua terra e sua origem. A saudade de um território estranho, quase apagado na memória, o mundo dos sonhos, onde a comida é doce e os abraços infinitos, há apenas sorrisos e nenhuma dor.

O perfume acompanhado de uma nova forma. Acalmando a mente e toda a dor que possa haver em um coração. Essa dor que se converte em silêncio e que só acumula, não encontrando escape nem em um grito.
E o grito absurdo que não se ouve, só gela a alma, entorpece os sentidos e conduz a vigília. Vigília eterna, que virá a corroer por dentro tudo o que é bondade, só deixando o pesadelo e, enfim, o medo de dormir, apesar do cansaço.

A necessidade de estar alerta a cada sentimento novo e sem nome, que brotar de um coração. Tentar compreendê-los. Manter a mente alerta para o que o corpo já não sente.

Tudo isso sozinho, em silêncio. Só.

Nenhum comentário: