Então... ele pelo menos tinha uma pedra no meio do caminho. Ou dentro do sapato, talvez. De qualquer forma, sortuda aquela pedra. Encontrou um cara bacana, podia ter conversado. E olha que ele não ficou nem um pouco alheio a ela. Dona pedra, tinha algo de sedutora para jamais ser esquecida. Estar ali, no meio do caminho, talvez tenha tornado as coisas mais heróicas, suponho. Será que eles conversaram? Deviam. Afinal, qual o mal em se conversar com uma pedra? Tem gente que conversa com santo, ou com lápides, mas jamais conversaria com uma pedra sem forma. Será que era grande? Devia ser, para ser tão notada.
Talvez errada estivesse a estrada, ou o caminho. Por que não desviou da pedra? Acho que a pedra e o caminho tinham algo em comum, como almas gêmeas que não podem ser separadas. Romântico isso: a pedra e o caminho, unidos eternamente. Comove mais que amor humano com suas idas e vindas que vão terminar num final duvidosamente feliz, que a gente mais inveja do que acredita. Mas, como diria o Professor, o final feliz satisfaz, é o que a gente anseia de verdade. O nosso final feliz.
E pensar no poeta... poxa! Um triângulo amoroso? O caminho e a pedra já estavam lá, daí vem o intrometido. Mas a pedra é fiel! Não se afastou. E se os três, de repente, conversaram? O que teriam dito?
No meu caminho não tem pedra nenhuma. Chato... mal dá pra bancar o herói e pular por cima da pedra gritando bem alto, o grito de um vencedor, ou de um animal...
O caminho só vai e cansa. Daí a gente senta no meio e vê se alguma pedra passa por nós.
Nós? Que nós?