terça-feira, setembro 20, 2011

The red haired witch - A bruxa ruiva

Nunca fui de escrever textos longos em outras línguas. Mas ontem tentei fazer isso por causa de uma cantora lituana chamada Alina Orlova. A senhorita G. me falou dela em meados de outubro do ano passado, ou seja, há quase um ano e eu tenho ouvido suas músicas todos os dias sem enjoar. Fazia tempo que isso não acontecia. Sábado, voltando de São Paulo e ouvindo-a cantar no meu celular, imaginei escrever uma espécie de livrinho infantil sobre uma bruxa ruiva cantora. Tinha visto uma exposição do Saul Steinberg e estava cheio de ideias na cabeça. A ideia virou isso aí, escrevi em inglês na esperança de ela poder lê-lo um dia... Perdoem-me, mas nunca estudei inglês formalmente, então deve haver alguns errinhos aqui e ali... mas não me envergonho deles.



The red haired witch 
a tale to Alina Orlova, who have enchanted me without know it. 

Hey, maybe you should not trust me. At least not completely, because I am a thief. A liar and a thief. But I could also be a storyteller, and that is what I want to do here. Only tell you a story. Although I am a real lier, it is all true. 

There was once a red haired witch. But she was not the kind of scaring witch, that makes potions or eats children. At least I believe not. She could do her own enchantments without salamander’s eyes or spider’s legs. I could imagine that she looks like a very normal person - and is also beautiful -, except of her talents, which she sometimes used to show to other people or kept, maybe the most powerful ones, all in secret. I could also imagine that she goes every day, just like a normal person, to buy some food for her own. I am completely sure, that she not even had a cauldron. What she used to make her witchcraft was only a piano and her voice. Because she had a very beautiful voice... More than beautiful, I should have said... 

Once I found some of her books - but I didn’t know what kind of book they were -, and I stole these books. I simply stole and brought them to home. However, at midnight, one of them began to sing - obviously, books of witches are also enchanted books - and I tried to listen to very attentively. I must confess, I could not understand every word spoken, but it looked like some mermaid’s song, that made me stay entirely still, quiet, almost without breath.That should be the price for stealing some kind of books and, at the next night, the other book sang, and I listen to more attentively than the last night. 

Also I wished to learn more about the books. One was named Laukinis Šuo Dingo and I tried to translate these words. Until now I am not so sure, if it is about some wild dog. Well, a wild dog for a thief is something that could bring all the kinds of adventures for a old storyteller, that is not precisely what I am. On the other I could read Mutabor, which means... I don’t know, maybe something related to changes... or not... 

After all these things, the only thing I know is that I must be more careful when I steal books. These have enchanted me and I hear them night after night, day after day, all the time with the same feeling. Without understand a single word, yet touched almost to tears... 

I’m so sorry for steal your books, this story is some kind of payment for making my days a little better, a little more beautiful... I hope this story could make you, at least for a moment, a little happier. Maybe smile. 

Thanks for don’t hide your talent.

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A bruxa ruiva
um conto para Alina Orlova, que me encantou sem o saber.

Ei! Talvez você não deva confiar em mim. Pelo menos não completamente, porque eu sou um ladrão! Um mentiroso e um ladrão. Mas eu também posso ser um contador de histórias e é isso o que eu quero fazer aqui. Somente lhe contar uma história. Embora, eu seja realmente um mentiroso, isso é tudo verdade.

Era uma vez uma bruxa ruiva. Mas ela não era daquele tipo de bruxa assustadora, que faz poções ou come crianças. Pelo menos, eu acho que não. Ela podia fazer seus próprios encantamentos sem olhos de salamandras ou pernas de aranha. Eu poderia imaginar que ela se pareceria como uma pessoa bem normal - e também bonita -, exceto por seus talentos, que ela, às vezes, costumava mostrar para outras pessoas ou mantinha, talvez os mais poderosos, todos em segredo. Eu poderia também imaginar que ela vai todos os dias, bem como uma pessoa normal, comprar alguma comida para ela mesma. Eu estou completamente certo, que ela nem mesmo tem um caldeirão. O que ela usava para fazer suas bruxarias era somente um piano e sua voz. Porque ela tinha uma voz muito bonita... Mais que bonita, eu deveria ter dito...

Uma vez eu achei alguns de seus livros - mas eu não sabia que tipo de livros eles eram -, e roubei esses livros. Eu simplesmente roubei e os trouxe para casa. Entretanto, à meia noite, um deles começou a cantar - obviamente, livros de bruxas são também livros encantados - e eu tentei ouvir tudo atentamente. Eu devo confessar que não podia entender todas as palavras ditas, mas parecia uma canção de sereia, que me fez ficar completamente parado, quieto, quase sem respirar. Esse deve ser o preço por roubar esse tipo de livro e, na noite seguinte, o outro livro cantou, e eu ouvi mais atentamente que na noite anterior.

Então eu quis saber mais sobre os livros. Um chamava Laukinis Šuo Dingo e eu tentei traduzir essas palavras. Até agora eu não estou certo, se esse livro é sobre algum cachorro selvagem. Bem, um cachorro selvagem para um ladrão é algo que pode levar a todo tipo de aventuras para um velho contador de histórias, que não é precisamente o que eu sou. No outro, eu podia ler Mutabor, que significa... Eu não sei, talvez algo a ver com mudanças... ou não... 

Após todas essas coisas, a única coisa que eu sei é que eu devo ser mais cuidadoso quando eu roubo livros. Esses me encantaram e eu os ouço noite após noite, dia após dia, todo o tempo com o mesmo sentimento. Sem entender uma única palavra, porém tocado quase até às lágrimas... 

Sinto muito por roubar seus livros, essa história é algum tipo de pagamento por fazer meus dias um pouco melhores, um pouco mais belos... Eu espero que essa história possa fazê-la, pelo menos por um momento, um pouco mais feliz. Talvez sorrir. 

Obrigado por não esconder seu talento.

domingo, setembro 18, 2011

Dom Casmurro

Isso é apenas um relato pessoal da minha leitura de Dom Casmurro. Vestibulandos, corram daqui, ou leiam até o fim, porque ler não dói.

Quem me conhece pessoalmente e já trocou ideias sobre literatura comigo, sabe que o grande Machado de Assis nunca foi meu ídolo. Pelo contrário, vejo sua obra como supervalorizada ao extremo, um extremismo escolar que em vez de levar o leitor à reflexão atua de modo mais emburrecedor do crítico, propriamente dito, e é sempre necessário pensar e repensar nossa tradição.

Dom Casmurro é tido talvez por grande parte dos leitores como obra máxima de Machado de Assis, quando não da literatura brasileira. A história de amor que se desenrola desde a infância até a idade adulta com uma concretização (leia-se casamento) sem maiores percalços é marcada pela "grande" dúvida: se Capitu traiu ou não traiu Bentinho.

Creio que minha tendência a apreciar mais o que tende ao épico do que a introspecção tenha coberto as páginas de Dom Casmurro com algum tipo de véu, que possa ter-me impedido de ver a beleza de todo o conjunto. É claro que é uma obra bem escrita, com frases que poderiam ser retiradas com certa violência do contexto do livro para se tornarem aforismos ou coisa parecida (algo que infelizmente acontece).

Mas não sei... creio não ser tão burro para não ter entendido a obra, mas, pelo menos para mim, Machado é melhor contista do que romancista. Seus textos longos frequentemente tornam-se apenas enfadonhos. Não li toda sua obra, nem sou especialista no autor, mas foi a exata impressão que tive ao ler Quincas Borba. Salvo alguns lances de pura genialidade em sua - sei lá porque chamam assim - trilogia realista, que inclui Memórias Póstumas, ele não se dá bem com textos mais longos. Daí talvez os capítulos curtos, sem lá muito fôlego para mais.

O que porém a "crítica escolar" valoriza no autor, além de seu estilo elegante e impecável, é o modo como ele traça o perfil das personagens, com suas sutilezas e profundidade psicológica. Tendo isso em vista, é uma grande falha dessa crítica não notar que a obra em questão é apenas uma análise de personalidade, não a história de uma relação entre um menino e uma menina que crescem e acabam se casando. Para mim parece tão óbvio que o livro não é nada além do que sobre a própria personagem Bentinho - o próprio nome do livro já diz isso! Esqueçamos os "olhos de cigana oblíqua e dissimulada" da garotinha, ou os trejeitos adquiridos por Ezequiel, que lembravam o amigo morto. O mundo é filtrado pelos olhos envelhecidos - e que àquela altura já o viam de maneira um tanto acinzentada - do narrador.

Em minha modesta opinião, o tema do livro é o remorso de Bentinho. Ele é um documento escrito para tentar justificar os erros do passado e do presente. O narrador é o grande traidor, pois foi ele quem deu as costas para sua amada e, depois de sua morte, ainda assume alguns casos passageiros, damas que o visitavam... Talvez seja o remorso misturado à ideia de ter sido desonrado que o leve a pensar no suicídio. Bentinho é egoísta e possui um lado mau, que quase o leva a envenenar o filho.

Enfim, a questão de se duvidar do narrador já foi colocada por outros críticos com muito mais experiência e respaldo do que eu, mas não sei se esse tema do remorso já foi levantado, ou algo nesses termos.

Agora, pergunta-me o leitor se eu recomendo a leitura? Sim. Leitura obrigatória para qualquer estudante de letras ou mesmo para qualquer brasileiro. É necessário conhecer sua cultura e sua literatura. Fora isso, é um livro que pode se ler rápido, não é tão cansativo mas... convenhamos, é apenas um drama doméstico de alguém insignificante e que não faz muito mais do que falar sobre si mesmo. Para mim não é a obra máxima de nossa literatura, nem o lado que mais me interessa de Machado de Assis.

OBS: Antes das críticas, isso é apenas uma opinião pessoal, não um trabalho acadêmico... opinião, cada um tem a sua, ok?

sábado, setembro 03, 2011

Jogo de damas


Algumas coisas se fazem em pares. Como jogar damas. Inicia a partida, um ganha outro perde. Tem coisas em que os dois ganham, outras, em que os dois perdem. Maus perdedores destroem tudo, jogam todas as memórias no lixo, atacam o adversário... Não sei se ganhei ou se perdi, só sei que vou guardar as lembranças. Numa caixinha ou na cabeça, como sempre. Direito meu. Para que me desfazer, assim, completamente, de meu antigo parceiro? Respeite-me o próximo jogador.