- Não sei por que raios, essa mulher agora resolveu de comprar uma escada para o céu! Logo ela que antes se gabava de sua racionalidade e, portanto, descrença no divino; buscava por todos os meios uma forma de alcançar o paraíso! Decerto estava era com vontade de ralhar com Deus, por qualquer perfeição excessiva ou imperfeição que tivesse encontrado no Criador ou em sua obra. Então diria: "Ora, Criador, você é muito certinho! Tem mais é que curtir a vida! Afinal, não foi pra isso que você inventou o pecado?" Teria calafrios com essa blasfêmia se lá fosse muito apegado ao cristianismo. Mas, de fato, duvido que ela faria perguntas de caráter mais filosófico ou racional, como muitas vezes gostava de fazer por aí. Não que fosse exibicionista do tipo arrogante que gosta de crescer para cima dos outros. Apenas gostava de manter a conversa em um nível elevado, que frequentemente, porém, tornava-se apenas cansativo, sem objetivo e constrangedor. Ah, mas essa escada! Nem parecia algo razoável e que pudesse existir de verdade. Ela procurou por todos os lugares, sempre perguntando mais e mais, a despeito do que pudessem dizer as placas penduradas nas paredes. Palavras que podem enganar. Quem dera fosse tão poderosa quanto acreditava ser e com uma única palavra conseguisse o que quisesse. Mas não era assim...
Todavia, um dia ela conseguiu encontrar e comprar a tal escada. Depois passou dias se preparando para subir, afinal de contas a escada a levaria a algum lugar especial, supostamente. Estava toda preparada e até tinha colocado as suas jóias, que não eram de ouro de verdade, mas isso não importava. Elas brilhavam! Ela me olhou nos olhos e estávamos sem palavras.Seria aquilo uma despedida? Eu sabia que haviam dois caminhos e que se algo desse errado poderíamos escolher outro durante o percurso. Ela, contudo, não devia pensar assim. Sem dizer nada, olhou para cima e começou a subir.
Um apito soou. Lá no fim da rua virava um flautista, um cara de uma outra banda. Seria ele que nos levaria para a razão? Talvez. O fato de não haver um bando de ratos o seguindo me pareceu promissor e a música que saía de sua flauta prateada era, de fato, encantadora. "Você pode ouvir a música?" - perguntei sem esperar resposta. E ela parou. Sim, ela podia ouvir; mas a escada era tão brilhante e uma luz vinha de lá de cima. Não subiu mais nem um degrau. Também não desceu. Ficou parada e eu esperei por um tempo. O flautista já começava a se afastar e, no meio de tudo aquilo, segui-lo era a única coisa que fazia sentido. E foi o que fiz.
Agora não sei mais se ela realmente chegou a ouvir a música...
NOTA: Texto inspirado pela letra da música.
NOTA: Texto inspirado pela letra da música.